A conscientização é um processo importante. Além de eficiente para uma parte da população, é menos impositivo do que leis e decretos. Só que esse convencimento espontâneo tem se mostrado insuficiente para garantir duas atitudes fundamentais no combate à pandemia: uso de máscaras em locais públicos e distanciamento social. É só olhar as imagens de parques, praças, filas de banco e calçadas de grande movimentação popular. Nós, brasileiros, temos a cultura do toque, do abraço e da proximidade física, diferente de outros povos, especialmente europeus. Fomos criados assim.
Mas o mundo mudou. Precisamos mudar também, pelo menos até que estar perto uns dos outros seja novamente seguro. Nesse contexto, o poder público é compelido a estabelecer regras que protejam a população. E fiscalizá-las, estabelecendo consequências concretas para quem descumpri-las. Sem isso, não funcionará. Não se trata só de cuidar de si mesmo, mas usar máscara e manter distância entre pessoas é um direito dos outros.
Tendemos, de forma equivocada, a separar o processo de educação da consequência ao descumprimento das combinações que nos permitem viver em sociedade. Como se multar alguém que passa um sinal vermelho e põe em risco a sua vida e a dos outros não fosse parte fundamental da educação. Se não há consequência ao descumprimento da lei, fica mais fácil ignorá-la.
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O prefeito Nelson Marchezan tem acertado mais do que errado na missão de liderar o combate ao coronavírus na Capital. Mas se não intensificar a fiscalização do uso de máscaras e do distanciamento, estabelecendo alguma espécie de multa ou notificação para quem não respeitar as regras, verá os números da covid-19 aumentarem de forma ainda mais acelerada em Porto Alegre.