Circula pelas redes sociais um vídeo antigo do novo ministro da Saúde, Nelson Teich. Nele, o médico expõe um dilema entre a escassez de recursos e a decisão de investir "em uma pessoa mais idosa, que tem uma doença crônica mais avançada" ou gastar praticamente o mesmo valor em "um adolescente que está com um problema...que vai ter a vida inteira pela frente". Recebi o vídeo em vários grupos. Meu primeiro impulso, no calor da demissão de Luiz Henrique Mandetta, foi repetir algumas das observações que acompanhavam as imagens: "nazista, calhorda, olha só o que esse cara pensa".
Mas aí decidi respirar fundo, limpar a mente e ver e ouvir várias vezes, de novo. Em nenhum momento Nelson Teich se posiciona. Em nenhum momento diz que um ou outro deveria ser o escolhido. Ele expõe um dilema injusto, cruel, mas real. Aconteceu agora há pouco na Itália, quando UTIs lotadas impuseram aos profissionais de saúde a dura missão de estabelecer prioridades. É possível que, em breve, comece a acontecer no Brasil. Uma UTI lotada na qual um leito é desocupado, mas há necessidade de pelo menos dez. Quem vai primeiro para o respirador? O vídeo do ministro em nada depõe contra ele. Até porque faz parte de uma fala maior, está em um contexto desconhecido.
Esse é um dos grandes desafios da pandemia: impedir que ela nos obrigue a tomar decisões que antepõem capacidade de atendimento a vidas humanas. As reações ao vídeo do novo ministro consagram, mais uma vez, o "não vi e não gostei". Fiquei consternado com a demissão de Luiz Henrique Mandetta. Eu o havia escolhido como meu médico, a voz que eu escutava em meio às sombras. Mas o fato é que ele não está mais lá. Há uma outra voz. Devemos escutá-la antes, dar a ela crédito e apoio. Para que nós não façamos julgamentos e escolhas precipitadas e injustas.