Criador e criatura têm seus adversários favoritos. Lá, Donald Trump sonha em disputar a reeleição contra Bernie Sanders, o que de mais parecido existe com um comunista no mainstream norte-americano. Além disso, Sanders, que completa 79 anos em setembro, é judeu. Pode até render alguns votos em Nova York, na Flórida e na Califórnia, mas não no resto da América. Um comunista, idoso e judeu na Casa Branca é tão provável quanto uma confissão de Trump no processo de impeachment.
Aqui, Jair Bolsonaro daria tiros para o ar, em festa, se tivesse Lula ou um petista do alto escalão como principal oponente da próxima eleição. Sem polarização extrema e sem medo da “esquerdalha”, o presidente perde força.
É exatamente o que Trump e Bolsonaro fazem com suas posturas conflitivas e provocadoras. Acionam e legitimam o outro extremo. Ao mesmo tempo, alimentam seus exércitos de seguidores.
Enquanto isso, o centro fica tentando se explicar. Está à esquerda da direita e à direita da esquerda, mas não é nenhuma das duas. Por isso, encolhido, sonha com a volta do bom senso, mas o bom senso virou um algoritmo com fórmula secreta e que conhece a hora e o jeito certos de, sutilmente, se mostrar inútil.