Em meio a tantas polêmicas, bravatas e gritarias, Porto Alegre terá, nos próximos dias, a chance de mudar um sistema imprescindível, mas ineficiente. O projeto está pronto para ser votado pelos vereadores da Capital. Prevê uma alteração profunda na forma de escolha dos diretores das escolas públicas municipais. Hoje, os votos dos professores e funcionários valem 50% do total. Se a iniciativa for aprovada, serão os pais que terão a metade do peso na definição dos gestores dos colégios, ficando os docentes e servidores com 30% e os alunos maiores de 10 anos com 20%.
Atualmente, os salários pagos pela prefeitura aos seus 3,5 mil professores estão entre os mais altos do país, mas os rankings colocam Porto Alegre nas últimas posições quando o assunto é qualidade de ensino municipal. Pagar bem os professores é uma obrigação. O desempenho do sistema mostra, porém, que algo precisa ser melhorado. Dar mais poder aos pais significará envolvê-los mais, abrir mais as escolas aos seus entornos e, ao mesmo tempo, transferir mais responsabilidade à comunidade. A tendência é de que os efeitos sejam positivos. O projeto prevê também avaliações constantes dos diretores, baseadas no desempenho dos alunos.
Para compreender a situação do ensino municipal na capital gaúcha, é preciso levar em conta que a maior parte dos colégios geridos pela prefeitura fica em regiões economicamente deprimidas. Lá, as crianças não têm as mesmas oportunidades que se apresentam em bairros mais estruturados. As dificuldades de aprendizado refletem esta realidade. Mas botar a culpa nos alunos seria uma simplificação injusta. Os opositores do projeto alegam também falta de condições estruturais e pedagógicas, fato a ser igualmente pesado na equação.
Embora haja ressalvas legítimas, a iniciativa do secretário municipal da Educação, Adriano de Brito, merece ser avaliada com atenção. Talvez, depois de implementada, necessite de ajustes e de mudanças de rumo. Mas é uma tentativa válida de empoderamento das comunidades nas quais o ensino público é a única opção. E, por isso, deve ser cada vez melhor e mais conectado com os alunos e suas famílias, os centros do debate sobre educação, sempre que cumprido o pré-requisito básico de valorização e respeito aos professores.