O gaúcho José Lutzenberger foi, na década de 70, um dos primeiros brasileiros a falar sobre ecologia. Não sei se ele era de esquerda ou de direita, mas sei que abriu os olhos do país para questões ainda hoje contemporâneas. Mais de 35 anos atrás, ouvi-o falar sobre a Amazônia. Ele defendia a soberania brasileira sobre a região, mas questionava o argumento de que os outros países nada tinham a ver com o que acontecia – e acontece – na maior floresta tropical do planeta. "Se a casa do vizinho está pegando fogo e a fumaça e as chamas lhe ameaçam, você tem o dever de se manifestar", disse, na televisão.
Hoje, o mundo tem cada vez mais a sensação de que o Brasil não consegue cuidar da Amazônia. Se multiplicam as notícias e as opiniões nesse sentido. Temo pelo que possa acontecer se essa imagem, que vem sendo construída com a ajuda dos próprios brasileiros, não for desmanchada urgentemente, não com discursos e bravatas, mas com ações concretas.
Vivemos hoje a bolsonarização de um tema que é infinitamente mais relevante do que Bolsonaro e do que qualquer governante. A partidarização dos rios, das árvores, dos bichos e do ar é um atentado contra o Brasil, praticado pelos seus próprios cidadãos.
A saúde da Amazônia e do planeta é o assunto do qual deveríamos falar, com seriedade, patriotismo e visão universal. Isso é muito mais relevante do que os devaneios de um presidente acometido por surtos paranoicos e do que o oportunismo de uma oposição raivosa e rasteira. O desmatamento intelectual produz uma fumaça paralisante que os satélites não detectam.