Era 2010 e a campanha presidencial que elegeria Dilma Rousseff se aproximava. “Esse é um dos esforços para manter as contas do governo em dia”, declarou Lula na Alemanha, ao justificar um corte de R$ 10 bilhões no orçamento, enquanto surfava em uma inédita onda de prestígio mundial para um presidente brasileiro. O maior prejudicado foi ministério da Educação. “Não vou brincar com a economia só porque é ano de eleição”, justificou.
Lula acenou com a reposição das verbas em caso de aumento de arrecadação. Na época, quase todos festejaram a postura responsável do presidente. Houve isoladas críticas, predominantemente em tom de notas de rodapé.
Analisando os fatos e os contextos, a comparação entre Lula e Bolsonaro é inevitável. Ambos enveredaram por caminhos semelhantes, mas de formas diferentes. Embora as justificativas de Bolsonaro sejam outras, o objetivo real dos cortes é a tentativa de enfraquecer redutos alegadamente dominados pela esquerda – as universidades públicas. Já Lula acenava com um propósito que agradava ao mercado, sempre pronto a aplaudir medidas de austeridade no setor público.
Na prática, a atual radicalização na política brasileira acaba de fazer mais uma vítima. Cortar ou não verbas para a educação deveria ser consequência de um debate sério sobre a eficiência do modelo nacional de universidade pública. Nem Bolsonaro, que determinou o corte, nem seus opositores, que protestam nas ruas, parecem dispostos a discutir seriamente a questão.