O diagnóstico é curto e objetivo: “As universidades públicas brasileiras estão sendo vítimas de um ataque”. Rui Vicente Oppermann, reitor da UFRGS, identifica a origem e a causa: setores do governo Bolsonaro – incluindo o presidente -, sob a acusação de alinhamento ideológico da academia com a esquerda.
Oppermann vê nesses pontos o combustível de uma onda de notícias falsas. A principal delas, para ele, é que as universidades públicas não são efetivas na produção de pesquisas que resultem em benefícios para a sociedade.
—Respondemos por 95% do que se produz em tecnologia e por grande parte das novas patentes registradas no país—, afirma, citando a relevância das parcerias e os avanços conquistados pela Embrapa e no combate ao zika vírus e à dengue, além dos programas de inclusão de jovens no mundo da ciência. Só a UFRGS tem 800 núcleos de pesquisa.
O reitor admite que o setor tem dificuldades de comunicar esse avanços à sociedade e vê nesse fato um dos grandes desafios futuros. Oppermann rechaça com absoluta convicção o rótulo de alinhamento das universidades públicas com a esquerda.
—Eu jamais seria reitor de uma universidade que fosse aparelhada ideologicamente—, garante. Ele define a universidade como “um espaço privilegiado de debate plural” e identifica a incompetência da direita para marcar posição em alguns territórios.
— O DCE já foi de direita e vários professores e setores são identificados com correntes de pensamento diversas, sem que jamais tenha havido qualquer tipo de perseguição —, garante.
Oppermann conta que, depois da eleição, foi abordado por um aluno que o chamou de “meio comunista”. Bem humorado, respondeu: "Então me mostre de qual das minhas metades estás falando”.
Na tentativa de mapear o novo cenário do poder, o reitor identifica aliados em Brasília. Um deles é o ministro astronauta da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações, Marcos Pontes, bem mais propenso a compreender e apoiar as universidades públicas de onde, lembra Oppermann, saíram vários ministros e integrantes dos primeiros e segundo escalões.
Enquanto as questões ideológicas ocupam a pauta pública, um outro tema preocupa a UFRGS. A verba orçamentária de custeio da universidade foi cortada em 25% esse ano.
—A partir de setembro vocês vão me ouvir gritando e perguntando o que cortar primeiro—, desabafa. A mobilização da bancada federal por emendas que garantam aporte extra de recursos é um caminho inevitável. Oppermann sabe que vai ser preciso bem mais do que alguns tuítes para convencer o governo e a sociedade do papel das universidades. Mas até as concessões têm limites: “Sem pluralidade e debates abertos, a universidade perde o seu sentido”, afirma.