Percebo até mesmo nas rodas de amigos e familiares. Desaprendemos a conversar. A irritação nos impede de ouvir. Sem ouvir, não há diálogo e construção. Não é idealismo e nem ingenuidade. É um fato concreto e perigoso: as conversas se transformaram em exercícios toscos de arremesso de verdades. E de rótulos superficiais. Dedos em riste e veias saltadas no pescoço, até mesmo nos churrascos de domingo.
Provar que o outro está errado é o que importa. Não com argumentos racionais e sensatos. Basta passar adiante qualquer besteira falsa no WhatsApp e assumir um tom impaciente e messiânico na fala. Nessa via de duas mãos, deixamos a lógica das redes sociais transbordar para a vida real, com isso, realimentamos o processo. Temos um presidente e uma parte do governo que não conseguem perceber o mundo além da lógica amigo-inimigo.
Chegamos a tal ponto que muitas família e grupos de amigos proibiram o assunto política e tudo o que em volta dele gravita. Houve tempos em que a autocensura se restringia ao futebol, território essencialmente passional e onde um dose controlada de imbecilidade não só é permitida, como recomendada para fins de alívio do estresse. Mas quando as famílias e os amigos já não conseguem sequer falar sobre os temas do cotidiano, sob pena de cisões e brigas, algo mais sério está acontecendo.
O principal exercício que nos falta hoje é o da calma e da tolerância. É lindo poder reconhecer a beleza de uma ideia, mesmo quando não concordamos com ela. Repito: não falo aqui de poesia e nem quero posar de bom moço. Sou um cidadão preocupado com a humanidade e com o meu país. Precisamos de pontes, não de explosivos. Antes que as distâncias se transformem em abismos intransponíveis.