O governo Bolsonaro é realmente tolerante com as armas. Depois de prometer na campanha facilitar a posse, o que realmente aconteceu, agora pretende ser mais brando em outra frente: as infrações de trânsito. Veio de Brasília a notícia de que um projeto a ser enviado ao Congresso proporá dobrar de 20 para 40 os pontos que resultem em suspensão da carteira de motorista. Se a ideia prosperar, será um retrocesso e uma contradição para um governo que se elegeu com o compromisso de punir com rigor quem comete crimes e põe a vida dos outros em risco.
O trânsito mata mais de 45 mil pessoas por ano no Brasil. E deixa uma multidão de feridos e mutilados. Olhando para esses números, a lógica seria impor mais rigor na aplicação das punições. Colada nessa barbeiragem, vem uma outra providência, esta sim acertada. Aumentar de cinco para 10 anos a validade da carteira, uma forma de aliviar o cidadão da fúria arrecadatória do governo.
Na contramão da maioria, sempre defendi a fiscalização implacável nas ruas e nas estradas. Considero uma balela essa história de que agentes e policiais devem educar. Parto do pressuposto lógico de que quem tem uma carteira de motorista já é educado. Caso contrário, não poderia tê-la. Em alguns anos, a tendência é de que os carros autônomos, sem motorista, tornem esse debate obsoleto. Até lá, precisamos nos proteger. Aumentar o limite para a punição no trânsito é liberar uma arma justamente para quem não está bem treinado a usá-la.