Todas essas campanhas contra o voto nulo, a abstenção e o voto em branco são cheias de boas intenções, mas inúteis. Absolutamente inúteis. Perdem o sentido e se tornam contraproducentes diante do poder destrutivo do Facebook e dos grupos de Whatsapp. Se fosse só isso, seria contornável.
A propaganda eleitoral no rádio e na TV ainda nem começou e a sensação já é de sufocamento. É o amigo postador compulsivo de vídeos raivosos do seu candidato. É o outro amigo, saudosista, compartilhando promessas da volta dos bons tempos, os mesmos que nos empurraram para os maus tempos de hoje.
O candidato que mais cresce não tem nome e não habita o cérebro do eleitor, mas seu intestino. Produz apenas os inaudíveis ruídos de uma digestão difícil e as fisionomias de uma náusea constante.
Quando mais os candidatos e seus seguidores se xingam, mentem e atacam uns aos outros, mais a maioria desanimada quer distância.
Na verdade, o voto no Brasil não é obrigatório. Obrigatório é comparecer ao local de votação. Lá, é democrático e legítimo protestar, inclusive não votando, o que leva, no Brasil, o nome de voto nulo. A abstenção tem consequências inócuas e o voto em branco é previsto e aceito pela lei. Demonizar quem opta por eles, isso sim é antidemocrático e autoritário. Anular, optar por nenhum candidato ou simplesmente não sair de casa também podem ser posturas conscientes, mesmo que passíveis de discordância.
A podridão empurrada goela abaixo da Nação nos últimos anos precisa sair por algum lugar. Que seja pelo não-voto democrático. Todas as outras opções para extravasar a indignação seriam muito piores.