Estranho o que aconteceu no show do Chico Buarque em Porto Alegre. Na entrada do Araújo Vianna, algumas bandeiras do PT. Antes de começar a apresentação, boa parte da plateia entoou "olê, olê, olê, olá, Lula, Lula". Durante a apresentação, espocaram gritos de "Lula livre" e "fora Temer".
Violão em punho, Chico seguiu outro caminho. Chico, que se tornou célebre nos anos 70, em grande parte, pelo engajamento poético e contundente à realidade de uma época de polarização e violência.
No palco, nada de Apesar de Você, Cálice, Passaredo ou Roda Viva. Chico fez uma homenagem carinhosa à família Verissimo, que estava na plateia, e priorizou sua obra mais romântica. Teve a genérica Homenagem ao Malandro. "Agora já não é normal, o que dá de malandro candidato a malandro federal". De resto, Chico desidratou o setlist de polêmicas. Uma opção legítima de um dos maiores compositores da música brasileira, talvez um brado suave contra o ódio. Mas nem por isso imune à observação espantada: ó tempos, onde, no show, a plateia é mais militante do que o artista.