Afundado em uma crise de reputação, o Facebook teve uma ideia brilhante: criar um algoritmo para avaliar a confiabilidade. Dos outros. Criada a partir de uma ideia libertária, a rede social que já foi a mais popular do mundo vem enfrentando sucessivos bombardeios, depois que a ideia de organizar uma festa planetária sem porteiro e segurança começou a naufragar. Ano passado, a turma de Mark Zuckerberg admitiu que abrigava 200 milhões de perfis falsos. Vieram as acusações de interferência russa na eleição americana, as facilidades para recrutar terroristas, os grupos racistas. O sonho de uma plataforma sem intermediários onde o mundo se unisse e, de mão dadas, cantasse Imagine – em inglês, sempre em inglês – foi para o beleléu. Pena.
Algumas tentativas vem sendo feitas. Movimentos esparsos de fechamento de páginas e pregações com discursos carregados de promessa de um novo mundo. Sempre achei estranha essa história de "eu sou apenas um grande duto e não tenho responsabilidade sobre o que passa por mim". O duto entrou pelo cano. Escrevo tudo isso para reclamar, mesmo sabendo que dificilmente serei ouvido. Se o Face adotou no seu novo algoritmo os mesmo critérios que usa para si, minha confiabilidade despencou. Tomara. O contrário me preocuparia. Além disso, tenho convicção de que os nerds californianos não podem, legalmente, me julgar sem a minha autorização. A não ser que eu tenha autorizado naquele contrato picareta com o qual todos concordam sem ler, porque é impossível ler e compreender antes de clicar no I agree.
Não estou no Face, piscinão de Ramos no qual raramente me banho, para que algum almofadinha decida o que é e o que não é confiável na minha relação com meus amigos e familiares. O Face não é confiável, isso eu sei. Mesmo que a nova ferramenta avaliativa seja apenas de uso interno – por enquanto –, ela nada mais é do que um novo atropelo à privacidade dos já desrespeitados usuários da rede social mais inconfiável do planeta.