Impossível acreditar que o imbróglio da freeway pegou alguém de surpresa. Há 20 anos o prazo do final da concessão era conhecido. Trata-se do filé mignon das estradas federais no Rio Grande do Sul. Duplicada, movimentada, apontada em pesquisas como uma das melhores e mais seguras do Brasil.
Mais uma vez, a velha e surrada tática se apresenta. Inventar dificuldades para vender facilidades. Os mais rudimentares manuais da má gestão pública ensinam: a ameaça do caos e o medo criam o ambiente perfeito para que soluções impopulares sejam não apenas aceitas, mas também festejadas como salvação.
É o que acontece, em outras proporções, com a interferência dos governos na privacidade das pessoas. Há tantas ameaças externas que nos sentimos aliviados quando uma câmera, um algoritmo ou uma agência do governo nos espiona. No caso da freeway, porém, a perspectiva da queda nos serviços - menos ambulâncias e socorro mecânico é um caso de fake news que talvez se transforme em realidade. Não se chegou a esse ponto por acaso. Tudo foi pensado e decidido em algum gabinete de Brasília. Inclusive, a decisão de não decidir.
Assim, estão abertas as portas para contratos emergenciais, repasses extras e sem licitação. Para isso, nós, os usuários, precisamos estar assustados. As cancelas estão abertas para que, mais uma vez, o problema se apresente como solução. Alguém vai lucrar com tudo isso. Agora ou ali adiante. Nada contra, se esse lucro fosse obtido de forma transparente e ética. Brasília continua achando que o Brasil é bobo. Infelizmente, às vezes, tem razão.