Votos longos são de difícil digestão para os leigos. No fim, a informação que prepondera é a confirmação da condenação e o aumento da pena. Há mais a considerar. O voto do relator do recurso de Lula, desembargador João Pedro Gebran, trouxe uma revelação preocupante, expressa em um dos depoimentos usados como prova: o Congresso trancou a sua pauta de votações para pressionar o governo petista a nomear operadores ligados a partidos para a Petrobras. Isolada, a notícia seria um escândalo. Passou batida no meio do tsunami de lama analisada pelo TRF4.
O descalabro não mereceu, até agora, qualquer explicação ou contraditório, o que leva a crer na verdade dos fatos. Os tentáculos da corrupção têm uma elasticidade do tamanho do poder. É até difícil imaginar como parlamentares, homens e mulheres eleitos pelo voto popular, têm a desfaçatez de se aliar em uma chantagem tramada para abocanhar vantagens em um esquema tomado pela podridão.
A baixaria vai além. Em seu blogue, o jornalista Gerson Camarotti informa que, agora, os partidos da base governista condicionaram a aprovação da reforma da Previdência às indicações para vice-presidências da Caixa Federal. Na cara dura, como se o Brasil não estivesse avisando que esse tipo de esquema não será mais tolerado.
Com tantas reformas e avanços necessários ao país, é triste ver que o apetite por dinheiro sujo consiga o que o bom senso e o interesse público não conseguem: que o Congresso mostre a coesão necessária para que o Brasil tome a direção correta. Definitivamente, o julgamento de Lula não deveria encerar o mergulho nas entranhas de um sistema falido, mas que ainda tem forças para resistir .