Um partido fica três anos no governo, ocupando cargos, distribuindo verbas e se beneficiando da máquina pública. Aí, quando a eleição se aproxima, o partido sai do governo. Nos acostumamos a esse ritual como se fosse normal. Na verdade, é só mais uma aberração do sistema político brasileiro. O movimento de pseudo-rebeldia tem apenas um objetivo: iludir os eleitores com um discurso de falso descolamento. Tudo para ganhar espaço na próxima eleição e, com isso, negociar mais poder em outro governo no qual o partido ficará durante mais três anos para depois, às vésperas de uma nova eleição, decidir novamente por um rompimento fajuto.
Seria razoável acreditar em rompimento se ele significasse algum sacrifício. Se fosse resultado de uma incompatibilidade entre programa de governo e ação. Mas não é isso. É o contrário. Partidos saem de governos às vésperas das eleições para deixar tudo como está. Justamente na hora em que o Estado precisaria deles, na reta final da gestão. Se fosse só tempo para fazer campanha pelo Interior, existe a desincompatibilização obrigatória. Essa, sim, um instrumento moralizador.
A pantomima chega ao absurdo de, muitas vezes, alardear a saída de secretários e de outros integrantes do primeiro escalão para manter intocados centenas de cargos menos visíveis. O partido sai, mas fica.
Durante três anos, o partido defende ideias e ações. Agora, na hora em que seria razoável ficar, o partido lava as mãos. E todo mundo acha normal. Muitas vezes, o movimento é combinado e incentivado pelo próprio governo. Aí, na campanha, aparece um discurso esquizofrênico. Quando o governo acertou, o partido acertou. Quando o governo errou, o partido agora não está mais no governo. Como se a campanha eleitoral tivesse o poder de zerar tudo, de apagar o que passou e fazer de conta que os três anos anteriores não existiram. Depois não sabem por que o Bolsonaro cresce.
Esse tipo de desembarque do governo nada mais é do que uma balela, uma das tantas que se esconde sob o nome de "movimento político". Isso não é política. É politicagem. O objetivo maior disso tudo não é o bem comum, nem a coerência, nem um projeto de futuro para o Estado e para o país. O objetivo é garantir uma fatia cada vez maior de poder. Para que o partido continue servindo não à sociedade, mas à única coisa que realmente importa e interessa: o partido.