Recebi pelo menos cinco sugestões iguais: parar de falar em Bolsonaro. A argumentação é consistente. Ele cresce quando é criticado. Melhor seria deixá-lo quieto, longe dos holofotes. Não dar palanque, condená-lo ao esquecimento. Eu e todo mundo. Venho pensando nos últimos dias. Pedi opiniões a gente em quem confio. E cheguei à minha conclusão.Continuarei falando sobre Bolsonaro.
Porque, se ele efetivamente ganhar as eleições do ano que vem – se houver eleições –, não quero ser defrontado com uma pergunta que me destruiria ética e profissionalmente: “Por que não nos alertaram antes?”.Por outro lado, se Bolsonaro não vencer a eleição, quero deitar a cabeça no travesseiro e dormir em paz por ter feito o que deveria fazer. Externar de forma clara a minha opinião.
Apesar da decisão de manter vigilância sobre o tema, os alertas a mim endereçados tiveram um efeito importante. Agradeço aos colegas e leitores que investiram tempo e talento para tentar me ajudar. Concordo com eles quando afirmam que a demonização ajuda a fermentar a popularidade do deputado eleito pelo Rio de Janeiro.
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Então, em vez de elevar o tom, adotarei um viés mais analítico. A agressividade é o terreno dele. Fica difícil competir.
Entre os fatores que me levam a insistir no meu alerta sobre a radicalização da cena pública nacional, está a certeza de que até mesmo a inércia ajuda o crescimento do projeto de Bolsonaro. A cada novo assassinato no meio da rua, a cada baixaria nas redes sociais, a cada nova maracutaia em Brasília, o discurso messiânico de força acumula gordura. Afirmo, convicto, que Bolsonaro ganha votos hoje de boca fechada, sem precisar sair de casa.
É preciso jogar luz sobre essa ameaça à democracia brasileira. No terreno do debate e das ideias e não no da truculência. Foi assim na França, há poucas semanas. A união das vozes do bom senso e de forças até então divergentes impediu a Europa de mergulhar nas sombras do ultranacionalismo, da xenofobia e da intolerância. Pode ser que mesmo assim aqui, no Brasil, não dê certo. Mas que não seja por culpa do silêncio.