O ministro do STF e o presidente Michel Temer são amigos há vários anos. Jamais esconderam. Não entendo a gritaria. Tenho mais medo de julgadores que nutrem sentimentos obscuros, mascarados por uma falsa equidistância dos fatos.
Por mais paradoxal que pareça, ao tratar com normalidade a sua relação com Temer, Gilmar Mendes está sendo honesto. Ao opinar sobre Janot, Gilmar Mendes está sendo honesto. Aliás, o ministro foi convidado para uma entrevista. Democraticamente, aceitou. Foi feita a ele uma pergunta, respondida de forma clara e transparente. Críticas, ok. Não entendo a demonização, o linchamento.
Mandes considera o procurador-geral incompetente. Ok. É a opinião dele. Apesar disso, votou várias vezes com o Ministério Público, dando razão a teses defendidas por Janot. Se os votos do ministro Gilmar Mendes mostrassem inconsistência, aí sim.
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Nossa Suprema Corte não é uma ilha. Está imersa nesse enorme bate-boca chamado Brasil. Deveria se preservar mais, concordo. Inclusive o ministro Gilmar Mendes – tanto no STF quanto no TSE. Mas ele optou por falar. Ou então, que cessem os convites para entrevistas. Porque se ele os recusasse, torceríamos nossos narizes. As entrevistas públicas do ministro são o menor do seus problemas.
Na mesma linha, não há qualquer problema em presidentes da República indicarem ministros do STF, desde que os critérios sejam transparentes e rigorosos. Um presidente eleito pelo povo tem legitimidade para optar por um magistrado mais alinhado com suas visões de mundo. Ou quem sabe uma eleição direta, como defendem os demagogos de plantão? Algum Doutor Tiririca no STF. Muito democrático.
O problema é que, no Brasil, os últimos presidentes só pensavam e pensam em salvar as próprias peles. Temos que normalizar o ambiente e não adaptar as leis ao caos. Há outras questões a discutir, como os reflexos da amizade entre Mendes e Temer no TSE.
Repito.Há exageros nas falas do ministro, que se expõe demais. Tomara que me entendam: tenho mais medo dos que se recusam a falar.