Nesta quinta-feira (13), estreia nos cinemas o 13º longa-metragem de José Eduardo Belmonte, autor de A Concepção (2005), Se Nada Mais Der Certo (2008), Alemão (2014) e Alemão 2 (2022). Em Porto Alegre, O Pastor e o Guerrilheiro pode ser visto no CineBancários, às 15h e às 19h, e na Sala Eduardo Hirtz, às 17h.
O filme saiu de mãos abanando do 50º Festival de Gramado, onde desembarcou com uma grande equipe, em 15 de agosto do ano passado. No total, subiram ao palco do Palácio dos Festivais 26 pessoas, incluindo Juca Ferreira, ex-ministro da Cultura, e o ex-deputado federal José Genoino, ambos na condição de guerrilheiros na época da ditadura militar. A propósito, a passagem da trupe pelo tapete vermelho foi embalada por manifestações de apoio ao então candidato do PT à Presidência, Luiz Inácio Lula da Silva, o que provocou, nos corredores da Rua Coberta, vaias e gritos de reação de eleitores do então atual presidente, Jair Bolsonaro (PL).
Com roteiro de Nilson Rodrigues, José Rezende Jr., José Eduardo Belmonte e Josefina Trotta, O Pastor e o Guerrilheiro alterna-se entre dois tempos. Em 1999, perto da virada do milênio, Juliana (Julia Dalavia), filha ilegítima de um coronel (Ricardo Gelli) que cometeu suicídio, descobre que seu pai foi torturador durante o regime militar. Isso impõe um dilema: a herança deixada vai ajudar no tratamento da avó doente (Cássia Kis), mas é moral aceitar um dinheiro provavelmente sujo de sangue?
A partir de um livro que ela encontra na casa do coronel, História de um Guerrilheiro, assinado por Miguel Souza — uma versão ficcional do revolucionário comunista Glênio Sá (1950-1990) —, somos transportados para a Brasília de 1968. Mais precisamente, a Universidade de Brasília (UnB), onde Miguel (encarnado por Johnny Massaro) conhece Helena (Ana Hartmann) durante a violenta repressão da PM a um protesto estudantil. Os dois acabam se juntando à Guerrilha do Araguaia, movimento criado pelo Partido Comunista do Brasil (PCdoB) na região amazônica, no final dos anos 1960, e que já havia sido retratado em filmes como Araguaya: A Conspiração do Silêncio (2004), de Ronaldo Duque . Lá, assumem os codinomes João e Marta. Ele termina capturado pelo Exército, submetido a torturas e aprisionado na mesma cela do pastor do título, Zaqueu, preso por engano (um engano talvez temperado pelo racismo).
Esse personagem é brilhantemente interpretado por César Mello, tanto no passado quanto no presente. A ponto de o filme cair muito quando o ator não está em cena — a jovem Julia Dalavia ainda está ganhando estofo dramático, e os diálogos das sequências que envolvem os universitários ou os guerrilheiros parecem jograis de escola, altamente expositivos e romantizados (mais do que em Marighella).
Mas os pontos negativos e a previsibilidade da trama são compensados a cada sermão do pastor Zaqueu. Por meio de suas relutâncias e suas metáforas, o personagem fala sobre o difícil acerto de contas que o Brasil precisa fazer com o seu passado e comenta a trajetória política do país: "As palavras dos sábios precisam ser ouvidas com mais atenção do que os gritos dos néscios que comandam as máquinas da guerra. Mas basta um só pecador para destruir tanta coisa boa".