Ao escrever sobre Carter, nesta terça-feira (23), lembrei de Uma Lição de Amor (no original, I Am Sam), disponível na HBO Max. Mas o que o filme de ação sul-coreano lançado em 2022 tem a ver com o drama hollywoodiano datado de 2001? Bem, ambos são filmes — não sem justiça — malhados pela crítica (vide o percentual de avaliações positivas no site Rotten Tomatoes: 32% e 36%, respectivamente), mas que por algum motivo são capazes de nos cativar. Se o primeiro me pegou pela ação, o segundo me fisgou pela emoção.
O que não falta a Uma Lição de Amor são pontos para atacar. Para começar, combina duas características exploradas à exaustão no cinema: personagens com problemas mentais e dramas de tribunal. A propósito, o crítico Danny Graydon, no site da BBC, disse à época que a diretora e corroteirista Jessie Nelson explorava o sentimentalismo "com a incansável persistência da perfuração de um poço de petróleo, até explodir em um gêiser xaroposo".
Há quem ache inverossímil a trama: homem com intelecto de uma criança luta para manter a guarda da filha de sete anos. A câmera trepidante só se justifica nas nervosas cenas de audiência. E dizem que é clichê e ingênua sua mensagem: all you need is love, tudo que você precisa é amor, verso de uma música dos Beatles citado numa cena chave do longa-metragem.
Mas é justamente por insistir nessa coisa tão simples que o coração capitula diante do filme de Jessie Nelson, diretora de Corina, uma Babá Perfeita (1994) e coautora dos roteiros de Lado a Lado (1998) e A História de Nós Dois (1999).
A primeira barreira é quebrada pela intensidade e doçura da interpretação de Sean Penn, indicado ao Oscar de melhor ator como o deficiente mental Sam. Penn não envereda pela pieguice para passar toda a confusão que se cria na cabeça do personagem quando uma assistente social decide que sua filha vai morar com uma família adotiva, uma vez que está freando seu desenvolvimento para não ultrapassar o pai intelectualmente.
Eis outro trunfo do filme: Dakota Fanning, que estava começando sua carreira na pele de Lucy. É um amor de criança, bonitinha e cheia de tiradas cômicas. Quando um colega pergunta por que seu pai age "como um retardado", ela responde:
— Ele é retardado.
Ameaçada a relação entre Sam e Lucy, surge a advogada Rita Harrison (Michelle Pfeiffer). É a típica workaholic, que vive a mil por hora e come marshmallows escondida para tapear sua frustração: embora bem-sucedida (e linda, claro), ela carece do carinho do marido e do filho (sim, é óbvio que Rita acaba invejando Sam).
Se a sinopse de Uma Lição de Amor faz você revirar os olhos, a dica é simplesmente fechá-los ao assistir ao filme. Toda a história é comentada pela ótima trilha sonora. São canções de Lennon e McCartney — o protagonista é fã dos Beatles —, em versões delicadas e emotivas de Eddie Vedder (You've Got to Hide your Love Away), Sarah McLachlan (Blackbird), Aimee Mann e Michael Penn (Two of Us) e Rufus Wainwright (Across the Universe), além de Strawberry Fields Forever (Ben Harper) e Lucy in the Sky with Diamonds (Black Crowes).