O Oscar é uma premiação do cinema ou um programa de TV? O anúncio feito nesta terça-feira (22) pela Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood inclina a resposta para a segunda opção.
Na cerimônia de 2022, marcada para o dia 27 de março, em Los Angeles, oito das 23 categorias — ou seja, um terço — não serão apresentadas ao vivo. São elas: melhor edição (uma técnica sem a qual o cinema praticamente não existe), design de produção, maquiagem e cabelos, som, música original, curta de ficção, curta de animação e documentário em curta-metragem (na qual o brasileiro Pedro Kos concorre, como um dos diretores de Onde Eu Moro). Seus candidatos continuarão tendo a experiência do tapete vermelho, e seus vencedores subirão ao palco do Teatro Dolby, mas uma hora antes do início oficial da festa. Cenas das entregas dos troféus vão ser editadas e incluídas no show propriamente dito. Em resumo, essas oito categorias foram rebaixadas.
O presidente da Academia, David Rubin, explicou a decisão em um e-mail enviado aos membros da entidade. Basicamente, o objetivo é tornar a cerimônia televisiva mais dinâmica e atrativa ao grande público. O Oscar abre mão do princípio de igualdade — ainda que as principais categorias tivessem muito mais tempo de tela — em nome dos interesses comerciais da rede de TV ABC, que no ano passado amargou a pior audiência da história nos Estados Unidos.
A média mínima foi de 9,85 milhões de telespectadores, uma redução de 58,3% em relação a 2020 (23,6 milhões). Pelo contexto da pandemia, que forçou o fechamento de cinemas e adiou estreias de filmes muito aguardados, e pelo favoritismo de um título de baixíssima bilheteria no país — Nomadland arrecadou apenas US$ 3,7 milhões —, o tombo era esperado. Mas vale dizer que o público do Oscar vem caindo há bastante tempo. Para comparar, basta lembrar que em 2014 mais de 43 milhões de pessoas assistiram à premiação.
O rebaixamento de categorias nas quais os artistas e técnicos são, em sua maioria, desconhecidos do público (uma grande exceção é o compositor Hans Zimmer, que por Duna chega a sua 12ª indicação) soma-se a outras decisões voltadas para recuperar engajamento no sofá. Uma delas é o retorno, após quatro edições, da presença de apresentadores. E a volta tem um toque especial: pela primeira vez, haverá um trio de mulheres comandando a festa. São elas Regina Hall, atriz premiada pela comédia dramática Support the Girls (2018) e presente nas séries de TV Black Monday (2019-2021) e Nove Desconhecidos (2021); Amy Schumer, comediante que já teve 13 indicações ao Emmy; e a também comediante Wanda Sykes, que concorreu 14 vezes ao grande troféu da televisão estadunidense.
Outra medida para atrair audiência foi a criação de uma categoria extraoficial, a de "favorito dos fãs", com votação via Twitter até o dia 3 de março. Essa ideia reflete um antigo dilema da Academia: ser relevante, adotando a excelência como norteador da escolha dos indicados, ou ser popular, levando em consideração o sucesso de bilheteria? Nesta temporada, por exemplo, a Marvel e a Sony chegaram a fazer campanha pela indicação de Homem-Aranha: Sem Volta para Casa — US$ 1,83 bilhão em arrecadação, a sexta maior da história — ao Oscar de melhor filme. Mas a aventura de super-herói só emplacou a categoria de efeitos visuais. Que nem é o seu forte.