Mais antiga festa cristã, a Páscoa, neste fim de semana, celebra a ressurreição de Jesus Cristo, que já foi encarnado por dezenas de atores famosos no cinema e nas séries. O sueco Max von Sydow, por exemplo, emprestou seu semblante em A Maior História de Todos os Tempos (1965), superprodução dirigida por George Stevens (oscarizado por Assim Caminha a Humanidade) com quase quatro horas e meia de duração, estrelada também por Charlton Heston, John Wayne, Telly Savallas, Sidney Poitier, Claude Rains e Carroll Baker.
Outro astro a interpretar o messias foi o inglês Robert Powell em Jesus de Nazaré (1977), reverente minissérie feita para a TV pelo italiano Franco Zeffirelli. O norte-americano Willem Dafoe já havia sido indicado ao Oscar (por Platoon) quando estrelou A Última Tentação de Cristo (1988). Mais recentemente, tivemos o escocês Ewan McGregor em Últimos Dias no Deserto (2015).
Mas há diretores que preferem escalar artistas pouco conhecidos para viver o filho de Maria. É o caso dos intérpretes da figura bíblica em megaespetáculos como O Manto Sagrado (1953), em que Donald C. Klune atua sem falar e Cameron Mitchell faz a voz em off — ambos sequer creditados no filme —, Barrabás (1961, Roy Magnano) e O Rei dos Reis (1961, Jeffrey Hunter).
Se as obras acima trataram com zelo e respeito a imagem de Cristo, outros títulos celebrizaram-se por versões pouco ortodoxas da vida do homem de Nazaré. Em O Evangelho Segundo São Mateus (1964), por exemplo, o italiano Pier Paolo Pasolini retrata Jesus como uma espécie de marxista primitivo. A paixão de Cristo modernizada é o mote do musical pop Jesus Cristo Superstar (1973), com Ted Neeley como o protagonista, e do drama Jesus de Montreal (1989), do canadense Denys Arcand, com Lothaire Bluteau no papel de um ator que se crucifica de verdade. Já a irreverência anárquica do grupo inglês Monty Python beira a blasfêmia na comédia A Vida de Brian (1979, em cartaz na Netflix), sobre um sujeito que nasceu no mesmo dia do Salvador e passa a existência toda sendo confundido com Cristo.
Ao pesquisar para fazer esta coluna, descobri que vários filmes sobre Jesus não estão disponíveis no streaming. A lista abaixo conta apenas com os títulos encontrados nas principais plataformas ou em canais por assinatura.
O Rei dos Reis (1961)
Diretor de Juventude Transviada (Rebel Without a Cause, 1955), Nicholas Ray encenou a vida de Jesus Cristo do nascimento à ressurreição, com foco no cenário político da época. Jeffrey Hunter interpreta o messias, Robert Ryan é João Batista, Brigid Bazlen encarna Salomé, e Orson Welles faz a narração. A trilha sonora é de Miklós Rózsa. (Google Play e no YouTube)
A Última Tentação de Cristo (1988)
O catolicismo controvertido de Martin Scorsese está refletido neste filme em que Jesus (Willem Dafoe) é um personagem torturado pela dúvida e pela responsabilidade da missão divina, um homem comum, frágil e contraditório. Baseado em romance do grego Nikos Kazantzakis, A Última Tentação de Cristo traz no elenco Harvey Keitel (Judas), Barbara Hershey (Maria Madalena) e David Bowie (Pôncio Pilatos). Scorsese concorreu ao Oscar de melhor direção. (Google Play e YouTube)
A Paixão de Cristo (2004)
Falado em aramaico, hebreu e em latim, o drama bíblico dirigido pelo ator Mel Gibson foi atacado por vários flancos: organizações judaicas acusaram o realizador de antissemitismo, enquanto católicos ficaram chocados com a extrema violência com que o Messias é supliciado em cena. O filme concentra-se nas últimas 12 horas de vida de Jesus (Jim Caviezel), desde sua prisão pelas tropas romanas, exigida pelos sacerdotes hebreus, até a crucificação. Maia Morgenstern interpreta a Virgem Maria, e Monica Bellucci é Maria Madalena. A Paixão de Cristo foi um tremendo sucesso de bilheteria (US$ 611 milhões arrecadados) e disputou os Oscar de fotografia, maquiagem e trilha sonora. (Telecine Touch nesta sexta, às 22h, e no domingo, às 17h55min)
O Filho de Deus (2014)
Trata-se de uma versão condensada e com cenas extras (rodadas no Marrocos) da minissérie A Bíblia, um dos maiores sucessos da TV americana em 2013. Com direção de Christopher Spencer, narra a trajetória de Jesus Cristo do nascimento à ressurreição, com ênfase nos milagres, nos sermões e na crucificação. Quem encarna o protagonista é o ator e modelo português Diogo Morgado, que se parece no filme com uma estrela do rock: a chegada do Messias com os apóstolos a Jerusalém até remete à entrada no palco de uma banda saudada pelos fãs eufóricos. (Amazon Prime Video)
Últimos Dias no Deserto (2015)
O colombiano Rodrigo Garcia dirige Ewan McGregor neste filme ambientado durante os 40 dias de jejum e oração no deserto. Jesus luta contra o diabo pelo destino de uma família em crise (papéis de Ciarán Hinds, Ayelet Zurer e Tye Sheridan), conta a sinopse. (Netflix)
Ressurreição (2016)
O cético centurião Clavius (Joseph Fiennes) e seu assessor Lucius (Tom Felton, o Draco Malfoy da franquia Harry Potter) são designados por Pôncio Pilatos (Peter Firth) para desvendar um mistério: o que aconteceu com o corpo de Jesus (o neozelandês Cliff Curtis) depois da crucificação? A direção é de Kevin Reynolds, de Robin Hood (1991) e Waterworld (1995). (Netflix)
Maria Madalena (2018)
O foco do diretor Garth Davis está menos em Jesus Cristo (vivido por um Joaquin Phoenix pré-Coringa) e mais em Maria Madalena (Rooney Mara), a jovem pescadora que contraria normas e pressões e vai se juntar ao pregador de Nazaré. (Google Play e YouTube)
