É uma fórmula, mas é imbatível. Cartaz desta terça-feira (18) na Sessão da Tarde, Intocáveis (França, 2011) integra a lista de filmes sobre uma amizade improvável, que supera barreiras – no caso, sociais, culturais, étnicas e até físicas – para, ao fim, dar uma lição moral de solidariedade, tolerância e respeito às diferenças. Posso dizer, seguramente, que a atração das 15h na RBS TV me fez rir tanto quanto chorei.
Os diretores de Intocáveis (Intouchables, no original), Olivier Nakache e Eric Toledano, adaptaram a história real de Phillippe Pozzo di Borgo, milionário tetraplégico que criou um forte vínculo com o enfermeiro argelino que foi seu braço direito, Abdel Sellou.
No filme, Phillippe é interpretado pelo ótimo François Cluzet – os mais antigos podem lembrar dele por causa de Ciúme: O Inferno do Amor Possessivo (1994), em que contracenou com Emmanuelle Béart. Mas Abdel ganhou o nome de Driss e representa outra ex-colônia francesa na África, o Senegal. O papel deu estrelato a Omar Sy, que recebeu o prêmio César (o principal do cinema francês) de melhor ator e que depois apareceria em X-Men: Dias de um Futuro Esquecido e Jurassic World: O Mundo dos Dinossauros. Ele retomaria a parceria com Nakache e Toledano em outra bem-sucedida comédia dramática, Samba (2014), sobre um imigrante em situação irregular em Paris, que traz no elenco Charlotte Gainsbourg e Tahar Rahim.
A mudança de nacionalidade em Intocáveis é significativa. Se os argelinos, pode-se dizer, integraram-se um pouco melhor à sociedade francesa, os imigrantes africanos e seus descendentes vivem marginalizados nas periferias. Vide o que o cineasta francês de ascendência malinesa Ladj Ly mostrou no angustiante Os Miseráveis (2019), que concorreu ao Oscar de melhor filme internacional.
Para os não franceses, o filme cumpre com eficiência e graça o roteiro da fábula moral. O aristocrático Phillippe e o ex-detento Driss são como azeite e água. Um é expert em música erudita, uma chatice sem vibração para o outro, apaixonado por funk. Na galeria de arte, onde Phillippe interpreta significados ocultos, Driss vê borrões infantis. Sofisticação versus rudeza, limitação física contraposta à energia da força bruta – esses duelos provocam ora risos, ora lágrimas.
Indicado ao Globo de Ouro de melhor filme estrangeiro, Intocáveis foi um estrondoso fenômeno de público. Na França de 67,3 milhões de habitantes, registrou 20 milhões de espectadores. Tornou-se o título de seu país mais assistido no mundo ao arrecadar US$ 426,6 milhões – só perdeu o posto para Lucy (2014), dirigido por Luc Besson e protagonizado por Scarlett Johansson. Já ganhou rês refilmagens: uma na Índia, em 2016, uma na Argentina, também em 2016 (Inseparables, de Marcos Carnevale), e uma nos Estados Unidos, em 2017 – The Upside (no Brasil, Amigos para Sempre), de Neil Burger, estrelada por Kevin Hart, Bryan Cranston e Nicole Kidman.