Repare nas três fotos que ilustram esta coluna. Na primeira, estão atores de Star Trek: Picard, série em 10 episódios que estreia na Amazon Prime Video em 24 de janeiro.
Na segunda, parte do elenco de outra ficção científica do serviço de streaming, The Expanse, cuja quarta temporada vai ao ar na próxima sexta-feira (13).
Por fim, temos quatro integrantes de The Boys, seriado que terá novos episódios a partir do meio de 2020, no mesmo endereço.
Registradas durante a Comic Con Experience, a CCXP 19, encerrada no domingo, em São Paulo, as três fotos ilustram o discurso de diversidade étnica pregado por executivos da Amazon Prime Video no lançamento de seis produções brasileiras, na quarta-feira passada, também na capital paulista. Entre os 12 atores, há brancos e negros, há sul-americanos de nascença e descendentes de asiáticos (vindos do Irã, do Japão e das Filipinas), há uma inglesa com origem dominicana (Dominique Tipper) e uma neozelandesa de origem samoana (Frankie Adams). Dominique, aliás, a todo instante na CCXP exultava por reconhecer-se no público:
— Vejo muita gente marrom como eu!
É verdade que, se olharmos mais de perto para esses três seriados, identificaremos como brancos seus principais personagens (Capitão Pátria, Starlight, Bruto e Hughie em The Boys, Picard na nova atração da franquia Star Trek, Jim Holden em The Expanse). Mas também encontraremos outros exemplos do caráter multiétnico - em The Expanse, a iraniana Shohreh Aghdashloo interpreta nada mais do que a comandante da ONU; em The Boys, Laz Alonso, o Leitinho, é negro e filho de cubanos, e Tomer Kapon, o Francês, vem de Israel.
Por herança, o elenco de Star Trek: Picard só poderia ser assim. Afinal, a série original, que foi ao ar entre 1966 e 1969, empunhava a bandeira da comunhão entre os povos. O futuro desejado por Gene Roddenberry (1921-1991) tinha espaço para a convivência entre terráqueos e alienígenas, entre brancos, negros e orientais, entre americanos e russos - isso em plena Guerra Fria. Foi Jornada nas Estrelas (como era chamada no Brasil) que mostrou o primeiro beijo interracial da TV americana: em 1968, apenas um ano após a Suprema Corte abolir as leis que impediam o casamento entre brancos e negros, o capitão Kirk e a tenente Uhura protagonizaram o histórico momento romântico.
Essa tradição em romper fronteiras inclusive sociais foi evocada na entrevista coletiva da qual participaram o uruguaio Jonathan del Arco (que, duas décadas depois de A Nova Geração, volta a encarnar o borg Hugh), o chileno Santiago Cabrera (Cristobal Rios, o Cris), a americana Michelle Hurd (Raffi) e a inglesa de pai filipino Isa Briones (Dahj). Por pedido da Amazon, suas declarações estão embargadas até 13 de janeiro, mas pode-se falar do que foi dito e visto no painel da série na CCXP, no Auditório Cinemark XD.
O elenco elogiou o talento e a generosidade de Sir Patrick Stewart, 79 anos ("Ele instantaneamente nos coloca à vontade", disse Michelle, " Não só na Enterprise: na vida real, ele é o capitão perfeito", afirmou Isa). O trailer mostrou Picard aposentado, cuidando de seu vinhedo na França, de onde terá de sair para ajudar a jovem e misteriosa Dahj - "Ninguém está a salvo do passado", justifica o comandante. Daí, ele formará uma equipe, mesclando personagens novos e antigos - afinal, Star Trek: Picard precisa encontrar o equilíbrio entre a reverência aos numerosos e fervorosos fãs e a atração de um público mais jovem. É um desafio e tanto em uma franquia com mais de 50 anos de história.
*O jornalista viajou a São Paulo a convite da Amazon Prime Video