Esquadrão Suicida (2016) "concorreu" em duas categorias — roteiro e ator coadjuvante (Jared Leto, por seu famigerado Coringa) — do Framboesa de Ouro, o prêmio de galhofa concedido, na véspera do Oscar, aos piores filmes da temporada nos Estados Unidos, e "rodou" em dois sites que compilam críticas: no Metacritic, a nota é 40 (sobre 100), e no Rotten Tomatoes apenas 27% das avaliações foram positivas. Mas quem somos nós, a imprensa, diante da bilheteria? Os US$ 746 milhões arrecadados globalmente por esses anti-heróis da DC Comics deram sinal verde não só para uma continuação — prevista para 2021 e escrita e dirigida por James Gunn, de Guardiões da Galáxia —, como também para o que os americanos chamam de spin-off, um derivado. Trata-se de Aves de Rapina: Arlequina e sua Emancipação Fantabulosa, com estreia marcada para 6 de fevereiro no Brasil. O filme foi uma das atrações que a Warner levou para a Comic Con Experience, a CCXP 19, que vai até domingo em São Paulo.
Aves de Rapina, verdade seja dita, joga os holofotes sobre aquilo que Esquadrão Suicida tinha de melhor: a atuação apaixonada de Margot Robbie como Arlequina. A atriz australiana, hoje com 29 anos, ficou tão feliz de interpretar Harley Quinn, que resolveu estar entre os produtores do novo filme.
— Quando li os quadrinhos, me apaixonei pela Harley. Queria vê-la interagindo com outras mulheres, queria mostrar um lado de Gotham City que ainda não tinha sido visto — disse Margot nesta sexta-feira (6), em uma lotada coletiva de imprensa realizada no Palácio Tangará, um hotel localizado em um refúgio verde de São Paulo.
O subtítulo de Aves de Rapina faz referência à autonomia conquistada pela personagem, mas é sobretudo uma declaração de independência: um basta na relação tóxica que Arlequina mantinha com o abusivo Coringa. As cenas do longa-metragem exibidas na CCXP mostraram justamente isso: abandonada pelo vilão de cabelos verdes, a moça do bastão de beisebol assume a fossa, mas decide superar o Senhor C, como ela o chama. Afinal, é hora de empoderamento feminino.
— Nunca achei que a Arlequina seria um exemplo a ser seguido pelas mulheres — afirmou Margot. — Ela é uma psicopata, está num relacionamento tóxico, mas, por estranhos motivos, tornou-se um símbolo (basta ver a quantidade de garotas vestidas, maquiadas e penteadas como ela nos corredores da CCXP). Talvez sejam suas falhas que façam as pessoas se identificarem tanto.
Margot estava na companhia da diretora Cathy Yan e de suas colegas de elenco: Mary Elizabeth Winstead (que interpreta a Caçadora), Rosie Perez (a policial Renee Montoya), Jurnee Smollet-Bell (Canário Negro) e Ella Jay Basco (Cassandra Cain). Esta última personagem, a adolescente Cass, é a pivô da história. Quando começa a ser caçada por um bandido de Gotham City, Roman Sionis, o Máscara Negra (Ewan McGregor), e por um serial killer, Sr. Zsasz (Chris Messina), os caminhos das outras quatro mulheres vão se cruzar.
Feminismo não é só sobre mulheres, é sobre igualdade.
ROSIE PEREZ
Atriz
Todas as atrizes ressaltaram a importância de um filme de super-herói majoritariamente feminino e falaram sobre como Aves de Rapina conversa com temas sociais contemporâneos. Rosie Perez, por exemplo, disse que mulheres lutam o dia inteiro para serem reconhecidas e respeitadas, como acontece com a policial Montoya:
— Feminismo não é só sobre mulheres, é sobre igualdade.
Rosie também destacou o aspecto multiétnico do filme: a atriz tem origem hispânica, Jurnee é negra, Ella descende de coreanos e filipinos, a diretora nasceu na China.
Jurnee enalteceu a construção das personagens, que demonstram suas fraquezas, suas inseguranças e até seu lado violento:
— Estou cansada de ver mulheres perfeitas no cinema, porque nós não somos assim.
Estou cansada de ver mulheres perfeitas no cinema, porque nós não somos assim
JURNEE SMOLLET-BELL
Atriz
Por falar em violência e em imperfeição, o que as cenas exibidas na CCXP também revelaram é que a ação de Aves de Rapina será mais crua e realista. Cathy Yan disse que as atrizes dispensaram dublês na maior parte do tempo.
— Esta é uma das coisas mais legais de ser atriz: a cada filme, aprendemos mais, incorporamos ao nosso repertório novas habilidades, crescemos como pessoas — comentou Jurnee.
— Se eu, que já tenho uma idade mais avançada (55 anos), posso aprender boxe, então todas as mulheres podem. Nós podemos mais do que achamos ou do que acham que podemos — acrescentou Rosie.
Para Margot Robbie, a ação em Aves de Rapina convida a uma reflexão. A atriz indicada ao Oscar por Eu, Tonya (2017) afirmou que tanto nos bastidores quanto em cena há uma mensagem no filme da Arlequina. Como atrizes, ela e suas colegas tiveram de treinar muito suas coreografias de luta, precisaram apoiar e confiar uma nas outras.
— Como personagens, elas também descobrem que seus talentos são complementares, que trabalham melhor juntas. É um filme sobre mulheres que estão em busca de afirmação e que encontram o poder da união.
*O jornalista viajou a convite da Amazon Prime Video