Sou apreciadora da mistura, da troca, principalmente quando falamos em arte. Aliás, seria pretensioso acreditar que ela começa e termina em si mesma. Penso a arte como meio, nunca como final. A música, então, é rio que flui, como disse o Angelo Primon há alguns dias, mais do que pensar em influência e confluência, a cultura deve ser pensada como defluência, basta entendê-la com um organismo vivo.
O Angelo, junto a Mário Tressoldi, Valdir Verona e Oly Jr. fazem parte do Violas ao Sul, um encontro de artistas que tem na viola seu instrumento de pesquisa e criação. Cada um oriundo de um universo particular musical, se encontraram a partir de um projeto que valorizava o instrumento e resolveram trocar essa diversidade no palco e no disco homônimo que lançam agora.
Na história da música no Brasil, a viola sempre esteve presente. Se analisarmos os registros artísticos dos "interiores" brasileiros, a sonoridade do instrumento nos remete a um país sertanejo, caipira e, sim, gaúcho! Aliás, basta recorrer a imagens de Teixeirinha e Paixão Côrtes para encontrar a viola em capas de discos ou shows.
Com diversas características, o instrumento vem da época do Brasil colônia, de portugueses, espanhóis, jesuítas e muito difundido pela música caipira de Tonico e Tinoco, e Tião Carreiro, um dos grandes do instrumento.
O Mário Tressoldi por muitas vezes foi o único a levar a viola aos palcos dos festivais, sempre com o sotaque litorâneo e açoriano em suas canções, muitas vezes retratando a história do próprio instrumento nos palcos junto ao grupo Chão de Areia. O Valdir Verona, serrano, há muito se dedica também à pesquisa de ritmos e de diferentes manifestações artísticas regionais gaúchas. O Oly Jr. encontrou no blues sua sonoridade e fez com que o estilo, tão conhecido mundialmente, dialogasse com a milonga. Aliás, nas origens mouras e ibéricas deste estilo musical certo que vamos nos deparar com o talento e a veia musical do Angelo Primon. Assim, resumindo um pouquinho da história artística de cada um, dá para perceber como é eclético esse instrumento que une esses quatro baita músicos no palco.
Cada vez me alegra mais ver a arte livre a encantar por aí!
O projeto, surgido oficialmente em 2016, percorre o Rio Grande. Já passou pelo Multipalco na Capital, por cidades como Camaquã, Pelotas, Novo Hamburgo, Santa Cruz do Sul e no próximo dia 12 de abril se apresenta em Osório. Uma oportunidade de viajar pela regionalidade brasileira dos cateretês, catiras, milongas, chamamés, modas, toadas e por aí vai. Como diz a canção, parceria do Tressoldi com o chico Saga:
A viola também é do Sul, da cultura migrante ancestral, o gaúcho é rincão e sertão nos recantos do meu Litoral!