Mais uma vez, a delegação brasileira está dando um show na Paralimpíada! Embora estejamos vendo muitos replays, anúncios na televisão e internet, para muita gente ainda é um mistério o porquê do nosso país ser uma potência paralímpica. E digo potência porque nas últimas três edições de Jogos Paralímpicos o Brasil ficou no top 10 do quadro geral de medalhas. Entre alguns motivos, acredito que o principal é que o esporte é o meio que mais aceita as pessoas com deficiência (PCD's).
Se fizermos um recorte do Brasil, não precisamos ir longe para perceber como o nosso país não dá a devida atenção às pessoas com deficiência. E isso vai de coisas muito básicas, como calçadas desniveladas nas ruas ou a ausência de rampas para cadeirantes, até as mais complexas, como a falta de postos de trabalho e de políticas públicas específicas, por exemplo.
Em suma, é extremamente difícil ser PCD no Brasil. Além dos desafios estruturais e de acessibilidade, ainda há muito preconceito em relação às capacidades dessa população. Isso acarreta na falta de oportunidade para muitos que poderiam ser independentes e se tornar cidadãos completamente ativos na sociedade. Assim, muitas vezes, acabam ficando eternamente dependentes de suas famílias ou não conseguem viver com a devida dignidade.
Em função disso, o esporte se torna uma das únicas ferramentas de transformação e ascensão social de milhares de pessoas com deficiência — talvez seja o único meio que realmente os acolhe e entende suas necessidades. E esse acolhimento é uma das principais características que torna o esporte tão importante para uma sociedade.
Isso está imbuído em sua essência e, a partir disso, os atletas conseguem crescer como profissionais, mas, principalmente, como seres humanos. Ao fazer parte do esporte, muitos são salvos de vidas que, em vários casos, poderiam não ter perspectiva de melhora.
Além disso, o investimento em esportes paralímpicos é alto. Desde 2003, a principal fonte de renda do Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB) vem das Loterias Federais, assim como acontece no Comitê Olímpico Brasileiro (COB). Essa verba permite que o CPB consolide suas modalidades e mantenha a roda girando, trazendo novos atletas para o Centro de Treinamento Paralímpico — indiscutivelmente um dos maiores legados dos Jogos do Rio 2016 —, onde praticam mais de 10 modalidades e passam aproximadamente 20 mil pessoas por ano, entre treinamentos e competições.
Ao fazer parte (do esporte), muitos são salvos de vidas que, em vários casos, poderiam não ter perspectiva de melhora
SAMORY UIKI
Os Jogos Paralímpicos de Paris mostram mais uma vez, como eu sempre digo aqui na coluna, por que o esporte é tão mágico. Está na sua essência incluir, transformar e fazer crescer a todos que nele se envolvem.
Por isso sempre defendo que precisamos de mais esporte, é crucial que continuemos exigindo políticas públicas e também, porque não, iniciativas privadas em prol do esporte. É um dos poucos meios totalmente benéficos para as comunidades que ali se envolvem. Mais do que isso, é um dos meios pelo qual podemos mudar o país para melhor.