Fiz questão de colocar o artigo no título porque, na abertura deste texto, falo apenas de um dos 44 morros de Porto Alegre: o da Tapera, na Zona Sul. A primavera, que começa no final de semana, é um bom momento para sair da toca e reconectar-se à natureza. Há muito mais opções para isso na cidade do que se imagina, como a de uma trilha nesse morro de 252 metros de altitude, um dos mais altos da Capital (o maior tem 311 metros), minha escolha num sábado de sol.
O acesso é fácil (16 km do Centro) e, com o grupo que fiz, conduzido pelo pessoal da Trip da Mata, o ponto de encontro acrescenta uma atração: a Steilen Berg, onde se é recebido pelo proprietário da cervejaria artesanal, dá para deixar o carro, usar os banheiros e, na volta, caso não estiver dirigindo, aproveitar para experimentar uma cerveja ou levá-la para casa, o que foi o caso.
Ao partir rumo ao topo, a guia Juliana Peixoto deu orientações básicas sobre o que encontraríamos (antes, enviou instruções detalhadas para a trilha) e fez uma pequena sessão de alongamentos que, depois, se revelariam necessários (como ela brinca na volta, o banho pode ser enforcado, mas o alongamento não!). Na descrição da dificuldade da trilha, se diz que é de fácil a moderada, mas eu eliminaria a palavra "fácil". Há pontos bem íngremes e com saibro solto, o que dificulta um pouco as coisas na subida e na descida (nem pense em usar solado liso!). Na maior parte do trajeto, a vegetação é rasteira, então não há no que se agarrar, mas subimos e descemos devagar, sem maiores problemas.
O tempo total, nessa trilha, é de cerca de três horas e meia. Além de ser brindado com a paisagem do Guaíba, da Zona Sul e de outros morros, você aprende que o local sofreu com a extração de granito rosa (pedras de muitos prédios históricos da Capital saíram da região, mas, felizmente, as pedreiras estão desativadas) e parte da mata nativa também foi subtraída, restando poucos exemplares de butiazeiros, por exemplo. No caminho, Juliana nos apresentou a plantas alimentícias não convencionais (PANCs), nos fez respirar fundo e desfrutar com calma do ambiente.
Ah, tivemos uma companhia inusitada na caminhada: Diana, uma cachorra sem raça definida que abandona os donos e segue os grupos morro acima. Ela acompanha e desfruta cada momento, no ritmo dos trilheiros. Um bônus divertido, inclusive quando se chega ao ponto mais esperado: a Pedra do Rei ou do Coração, onde com uma pequena dose de coragem dá para tirar lindas fotos da paisagem (pena as pichações na pedra). Tapera, no dicionário, significa local abandonado ou em ruínas e, definitivamente, não faz jus ao morro!
Ainda que não seja difícil acessar o Tapera — encontramos outros caminhantes e corredores solitários —, não é recomendável ir sozinho ou mesmo em grupo sem alguém que conheça o local, ainda mais se a intenção for ver o pôr do sol (encontrei mais de um relato na imprensa de pessoas perdidas e resgatadas por bombeiros).
O que levar e usar
- Documento
- Água, lanche leve e frutas
- Protetor solar, repelente e kit de primeiros socorros
- Álcool em gel
- Roupas esportivas conforme o clima
- Bota de trilha ou tênis com bom solado
- Boné e óculos de sol
- Bastão de trilha e lanterna
- Sacola para lixo
Você encontra o pessoal da Trip da Mata no Instagram: tripdamata.br
A cervejaria
Como falei no início, a Steilen Berg é o ponto de encontro para esta trilha. A cervejaria artesanal produz 11 estilos de cervejas e duas receitas envelhecidas em barris de carvalho. O local recebe eventos e conta com churrasqueiras, quadra de futebol e salão (R. Olmiro Lametta Viegas, 27, no bairro Hípica, fone 51 99981-4337 e @steilenberg)
Outros lugares
Porto Alegre tem 44 morros, formando um anel com topos arredondados. A seguir, alguns dos mais conhecidos, por ordem de altitude:
- Sabiá (41m): na Pedra Redonda, Zona Sul, abriga mata nativa às margens do Guaíba. Parte pertence ao Colégio Anchieta, com estrutura de lazer, além de capela onde há um quadro do pintor Aldo Locatelli.
- Do Osso (143m): na Zona Sul, tem 220 hectares de área natural e abriga um parque criado em 1994, com 127 hectares. Há uma trilha fácil de percorrer e é possível agendar visita ambiental guiada (51 3289-5070, 3289-5071 e 3289-5072).
- Da Ponta Grossa (145m): cercado pelo Guaíba, dá nome ao bairro da Zona Sul. O nome foi atribuído ainda no século 18, citado na expedição de Gomes Freire de Andrade e em mapa de José Custódio de Sá e Faria.
- Santa Teresa (148m): abriga torres e sedes de emissoras de TV. Seu mirante já foi considerado ponto turístico obrigatório, com belas vistas do Guaíba e da cidade, mas o local acabou abandonado por conta da insegurança.
- Glória (287m): conhecido como da Polícia ou da Embratel, na Zona Leste, tem no topo antenas de rádio e TV. Nos anos 1970, chegou a contar com restaurante e parque. Em 2022, projeto propôs instalação de letreiro gigante com o nome da cidade.
- São Pedro (289m): o mais extenso da Capital, com 1,8 mil hectares, é coberto em boa parte por campos e florestas. No bairro Lageado, Zona Sul. Entre a fauna que habita o local, destaque para os bugios-ruivos.
- Santana (311m): ponto mais alto da cidade, ocupa área de cerca de mil hectares, parte pertencente à UFRGS. Um dos últimos remanescentes naturais da Capital, abriga a maior cobertura vegetal nativa, incluindo Mata Atlântica.
Rede
Ainda neste ano, um movimento voluntário criou o Caminho dos Morros de Porto Alegre (@caminhodosmorrosdeportoalegre). Integra a Rede Brasileira de Trilhas de Longo Curso (@redetrilhas) e pretende ampliar a lista de apaixonados pelos morros e pelas trilhas.
Trilha com seu cão
Se você não gosta de deixar seu cachorro em casa e ainda quer proporcionar a si e ao bicho um passeio diferente, a dica aqui é a Trilhas Dog Turismo Pet de Aventura. Quem conduz o grupo é o adestrador Mauricio Pinzkoski. As trilhas ocorrem uma vez por mês e a próxima edição, no dia 24/9, vai explorar a cultura e a experiência com cachorros e cavalos, no Sítio Paraíso, em Nova Santa Rita. Cada participante vai com seu veículo até o local para curtir uma experiência que dura cerca de 3h, na qual está incluído almoço. Informações: (51) 99941-1144 e @trilhasdogturismopet