Não poderia ter havido época mais apropriada para o lançamento de Transiberiana — Uma viagem de trem pelo mundo soviético (e por outros países que não me deixaram entrar), de Zizo Asnis, em plena Copa da Rússia. Reconhecido por mais de uma dezena de seus guias O Viajante — com dicas dos mais variados destinos, do Rio Grande do Sul à Europa Oriental, de uma viagem de volta ao mundo ao relato de mulheres que andam por aí sozinhas —, Zizo agora aventurou-se por uma narrativa de viagem, inédita para ele, em primeira pessoa.
No livro, o viajante gaúcho com mais de 90 carimbos por diferentes países em seu passaporte faz relatos das aventuras — e algumas desventuras — pelo lendário trajeto ferroviário, com passagens por Rússia, Belarus, Moldávia, Ucrânia, Cazaquistão (valeu a tentativa!), Mongólia e China.
O texto sem complicações faz embarcar junto nessa viagem solitária por roteiros gelados, mas na qual teve a sorte de encontrar pessoas acolhedoras que, não raro, o ajudaram a livrar-se de perrengues.
A descrição sincera de como foi "gentilmente convidado" a se retirar do Cazaquistão ou da forma como desistiu, após muitas tentativas, de entrar na Coreia do Norte, confere verdade a sua odisseia pessoal — não raro, viajantes que não têm ninguém para testemunhar as pequenas e grandes derrotas de viagem douram suas histórias.
Me tocou, pessoalmente, a forma como Zizo conta sua visita a Chernobyl, cenário de uma tragédia dos anos 1980 que marcou uma geração inteira. A cidade ucraniana virou fantasma após a explosão de uma usina nuclear matar um número não revelado de pessoas (à época, a então União Soviética tratou de esconder a dimensão da tragédia e a quantidade de vítimas), mas que se calculam aos milhares.
O relato, guardadas as proporções, lembrou minha visita aos campos de concentração de Auschwitz e Birkenau, na Polônia. Chernobyl, nas palavras de Zizo, quando descreve a entrada em uma escola:
"Entrar nesses locais é a parte mais chocante da visita. Não há como não se comover. Diferentemente de um museu, onde se tem acesso a informações, documentos, fotos, aqui não há nada escrito, fotografado, documentado, mas há evidências de vidas — vidas vividas e bruscamente interrompidas, como raramente se pode testemunhar".
Onde encontrar
- Nas principais livrarias do país
- No site da editora Belas Letras
Edição da Belas Letras + O Viajante
Tem 192 páginas e custa R$ 39,90