Quando me reúno com um grupo de amigos, um deles sai sempre com a brincadeira: "Já está na hora de falar sobre os seriados?".
É que, inevitavelmente, alguém puxa o assunto e vem uma lista de títulos de "clássicos" ou novidades do mundo do streaming ou da TV fechada. E todos têm opiniões sobre as tramas e os personagens. Rende muita conversa.
Fico me perguntando se era assim antes desses serviços, se comentávamos novelas, por exemplo, com tanta fidelidade e fervor.
Talvez, sim.
É bom lembrar que as séries de TV, que muitos consideram a salvação da lavoura para as produções de estúdios de cinema e canais fechados ou abertos, não são de agora. Estão na origem do cinema e da televisão.
Já criança ou adolescente, eu era viciada em seriados como Os Waltons, Jeannie é um Gênio, A Feiticeira, Perdidos no Espaço, Jornada nas Estrelas, A Gata e o Rato, Casal 20, Starsky & Hutch… (se você tem mais de 40 anos, lembrará de alguns). Com a diferença de que, naqueles longínquos anos 1970/1980, eles passavam na TV aberta, em dias e horários fixos. Não havia a facilidade de vê-los onde e quando se quisesse nem de fazer maratonas em dias de chuva.
Só não lembro de trocar tantas informações com minhas "redes" de então.
Na próxima reunião de amigos, por exemplo, eu falaria sem parar sobre uma de minhas últimas maratonas, depois de ter passado em revista todos os seriados de época disponíveis na Netflix: When Calls the Heart.
Sabe novelão mexicano?! When Calls the Heart se enquadraria nessa categoria, embora seja uma produção do Canadá-EUA. Me apaixonei por Elizabeth Thatcher, a professora, Jack Thornton, o oficial da polícia montada, e Abigail Stanton, a dona do café de Coal Valley, localidade que vive em torno de uma mina de carvão até uma explosão matar mais de 40 de seus homens/jovens. A cidade dá a volta por cima, as mulheres ganham força na trama e Coal Valley (Vale do Carvão) vira Hope Valley (Vale da Esperança).
O seriado é baseado no livro Love Comes Softly, da canadense Janette Oke, que centra sua obra em personagens femininas. No caso the When Calls the Heart, a necessidade é a mãe de muitas conquistas das mulheres, mas de cara chama atenção a história de Elizabeth, a garota (muito) bem-nascida que abandona a cidade para viver sozinha no oeste do início do século 20 e dar aulas numa comunidade na qual o trabalho é visto como valor maior do que a educação.
Por que o seriado me capturou? Talvez porque, embora haja um ou outro assaltante de banco ou falsificador de dinheiro, os principais dramas e dificuldades são os impostos pela natureza e pelas relações humanas. Há, sim, o prefeito dominado pelo administrador da mina, que depois vira ele mesmo prefeito e que tenta tirar vantagem de tudo. Mas o que eu enxergo, principalmente, é uma comunidade que se une para reconstruir a escola, a noiva que abre mão do banquete de casamento para doar aos desabrigados de uma enchente, a mulher que perdeu marido e filho no acidente e adota um casal de irmãos órfãos. A bondade é tão explícita, o tempo todo, que parece impossível encontrar ponto de contato com a realidade. É muita gente boa num seriado só. Faltam vilões. E por isso é tão bom.