
Desde que a Superintendência de Desenvolvimento do Sul (Sudesul) foi extinta, no início do governo Fernando Collor, incontáveis tentativas de ressureição fracassaram. Agora, o governador Eduardo Leite vem conquistando aplausos sempre que cobra da União um tratamento mais equilibrado para os problemas regionais e aponta os fundos constitucionais de outras regiões como concorrência desleal.
Parte da bancada gaúcha comprou a ideia, mas são remotas as chances de ressurgimento desse órgão para financiar o desenvolvimento de Rio Grande do Sul, Paraná e Santa Catarina.
O argumento de Leite é legítimo. Os Estados do Nordeste têm a Sudene, os do Norte, a Sudam e a Zona Franca de Manaus, e os do Centro-Oeste, a Sudeco. O Sudeste ganha royalties do petróleo ou do minério de ferro. E o Sul, considerado rico, tem bolsões de miséria, fica distante dos grandes centros consumidores e enfrenta dificuldades logísticas de infraestrutura.
Se é justo e legítimo, por que fracassaram as tentativas anteriores de recriar a Sudesul? Primeiro é preciso lembrar o contexto em que essas superintendências foram extintas e, depois, recriadas — as outras, no caso. A Sudesul nasceu em 1967, no governo Castello Branco, e foi extinta por Collor nos primeiros meses de governo, em meio a uma onda de diminuição do peso do Estado.
À época, houve reclamações aqui e ali, mas ninguém chorou por muito tempo a extinção da Sudesul, porque ela tinha se tornado um grande cabide de empregos. Tinha na folha de pagamento gente que nem aparecia para trabalhar. Pelo Estado espalhavam-se placas com seu logotipo em obras inacabadas.
Collor e a então ministra Zélia Cardoso de Mello alegavam que a maior parte dos órgãos extintos estavam dominados pela corrupção e simplesmente passaram o rodo. Como os brasileiros estavam mais preocupados com o confisco da poupança e os sinais de que o governo não tinha norte, faltaram lágrimas para chorar o fim da Sudesul.
Com o impeachment de Collor, ocorreram movimentos para recriar a Sudesul, mas nenhum governo encampou a ideia. Fernando Henrique Cardoso extinguiu a Sudene e a Sudam usando o mesmo argumento da corrupção, mas elas foram recriadas mais tarde com o argumento de que o Norte e o Nordeste precisavam de incentivo para atrair empresas.
O caso da instalação na Ford na Bahia ilustra bem essa situação. A empresa deixou o Rio Grande do Sul por divergências com o governo de Olívio Dutra mas, principalmente, porque a Bahia ofereceu incentivos por meio da Sudene. Pelo mesmo motivo, empresas calçadistas abandonaram os vales do Sinos e do Paranhana e migraram para o Ceará e outros Estados nordestinos.
É preciso acrescentar que o fracasso das iniciativas anteriores também se deu por uma crescente perda de poder político pelo Rio Grande do Sul. O Estado, que em todos os governos ocupou posições importantes no primeiro escalão e no Congresso, hoje não tem nenhum ministério, está fora da mesa diretora da Câmara e conquistou a presidência de apenas uma comissão, a de Cultura, ocupada por Denise Pessôa (PT).