Passaram-se 120 dias desde que a água do Guaíba se esparramou pelo Centro Histórico, o Quarto Distrito, deixou a pista do aeroporto Salgado Filho submersa e alagou outros bairros da Zona Sul e da Zona Norte. Quatro meses depois, incrivelmente, a cidade ainda está sem aeroporto e o trensurb opera com restrições, sem perspectiva de chegar ao Centro antes do final do ano, o que obriga os passageiros a encararem baldeações para chegar ao trabalho e afeta o comércio e os serviços.
A tragédia escancarou a lentidão no processo de reconstrução em diferentes cidades. Ainda há lixo amontoado em Porto Alegre e Região Metropolitana. Pouquíssimas moradias foram entregues até agora, apesar dos planos para contemplar quem perdeu tudo ou quer sair das áreas de risco. Ainda há famílias morando em abrigos, outras acampadas à beira da BR-116, sem falar das que estão em casas de parentes porque não recebem o aluguel social.
Ao lado da Avenida Castelo Branco, de onde já deveriam ter sido removidas para a conclusão das obras da ponte nova, famílias vivem em condições sub-humanas. Casebres que já eram precários antes da enchente ficaram ainda mais insalubres, e não só ali, como também nas ilhas e em outros bairros afetados. Da promessa do governo federal de transformar prédios públicos desocupados em moradia não se teve mais notícia. Não é só transferir. Será preciso realizar obras de adaptação.
Entende-se que obras de longo prazo, como as de prevenção às cheias, demandem projetos complexos, mas recuperação de asfalto e do mobiliário básico já deveriam estar resolvidas. Nas rodovias, seguem-se os improvisos, causando transtornos aos motoristas. O problema não se limita às estradas gerenciadas pelo poder público, mas inclui concessões, como é o caso da BR-386. A dragagem do canal de navegação que está tomada de areia e resíduos ainda é um plano. Nessas horas, fica difícil resistir ao clichê de comparar o ritmo da reconstrução com o adotado pelos japoneses depois de grandes terremotos.
Para não cometer injustiças, dizendo que nada foi feito, a coluna sugere uma leitura minuciosa do Painel da Reconstrução, atualizado diariamente no site de GZH — há sempre um banner na capa do site para acessar o painel, logo abaixo das principais notícias do momento.
Ali, o leitor poderá comparar o que foi prometido em cada área estratégica e o que já foi cumprido. É informação sem viés, um raio X do processo de recuperação do Estado por seus diferentes atores, acompanhado de reportagens de fôlego, fartamente ilustrada, sobre os problemas e as soluções.
É assinante mas ainda não recebe minha carta semanal exclusiva? Clique aqui e se inscreva na newsletter.