Encerrado o período de convenções, convém olhar com atenção as chapas completas e não apenas o titular. Porque a figura do vice, muitas vezes tratada como decorativa, deveria ser vista com a responsabilidade que o cargo impõe e não apenas como uma imposição do partido aliado.
Nunca é demais lembrar que o vice substituirá o prefeito em caso de morte ou impossibilidade de continuar o mandato. Ninguém espera que o titular seja impedido, mas é para isso que existe o vice.
Nos Estados Unidos, a vice-presidente Kamala Harris foi indicada pelos democratas por ser mulher, negra, senadora, promotora de Justiça. Teve um desempenho discreto ao longo do mandato, mas estava pronta para assumir a candidatura quando o presidente Joe Biden mostrou que não tinha condições e foi pressionado a desistir.
No Brasil, o presidente Lula se elegeu três vezes tendo como vice um político mais liberal do que ele, capaz de acrescentar votos que não teria: o empresário José Alencar em 2002 e 2006 e o ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin em 2022.
Alencar, um dos barões da indústria têxtil, foi decisivo para quebrar a desconfiança de setores empresariais que temiam a implantação do comunismo com Lula. Alckmin ajudou a conquistar votos entre eleitores que não gostam do PT, mas não queriam saber de Jair Bolsonaro.
Na eleição passada, Sebastião Melo (MDB) se elegeu tendo como vice Ricardo Gomes, um liberal que o ajudou a entrar em salões que nunca vira e a conquistar o apoio de setores que quatro anos antes fecharam com Nelson Marchezan (PSDB). Neste ano, a vice Betina Worm foi escolhida pelo PL, mais especificamente por seu presidente municipal, Luciano Zucco. Dado o perfil dos adversários, não acrescenta um voto que Melo já não tivesse.
O mesmo se pode dizer da vice de Maria do Rosário, Tamyres Filgueira, escolhida pelo PSOL. É uma escolha em nome da diversidade (uma mulher negra para formar a chapa com uma branca de olhos azuis), mas são as duas de esquerda. Tamyres não traz para a chapa votos novos, até porque não há candidatos viáveis à esquerda de Rosário.
Não é diferente o caso de Felipe Camozzato, que terá como vice Raqueli Baumbach, empresária do ramo da gastronomia. Como Betina e Thamyres, Raqueli também é novata na política, o que tem prós e contras, mas mantém o Novo restrito ao seu próprio círculo, sem uma aliança que poderia atrair votos mais ao centro.
Dos quatro principais candidatos, Juliana Brizola (PDT) é quem tem um vice de perfil diferente do dela. O médico Thiago Duarte, que usa o codinome Doutor Thiago, entra em áreas que a neta de Leonel Brizola não transita. É deputado estadual e pleiteava encabeçar a chapa, mas abriu mão da candidatura diante das evidências de que Juliana era mais popular do que ele.