O jornalista Henrique Ternus colabora com a colunista Rosane de Oliveira, titular deste espaço
Por fake news divulgada em 2022, a Record TV e a Igreja Universal do Reino de Deus terão que indenizar a ex-deputada federal Manuela D'Ávila (PCdoB) em R$ 12,7 mil por danos morais. Além disso, as empresas do bispo Edir Macedo terão que fazer uma retratação pública. Da decisão ainda cabe recurso.
No programa Entrelinhas de 29 de maio daquele ano, pastores foram convidados a debater as estratégias de campanha dos então pré-candidatos à Presidência, Lula e Jair Bolsonaro. A associação com Manuela foi feita durante afirmação de que a esquerda e o PT apoiavam um projeto de lei para a "legalização do incesto". Além de ter o nome citado, uma foto da ex-deputada foi utilizada para ilustrar a mentira.
A notícia falsa viralizou em 2019. O relacionamento íntimo entre pais e filhos foi associado ao projeto de lei 3.369 de 2015, de autoria do deputado federal Orlando Silva (PCdoB-SP). A proposta visa apenas ampliar o reconhecimento de famílias pela União, validando a adoção por casais homossexuais e os casos de crianças que são criadas por tios ou avós, por exemplo.
"Não observo prevalência de 'liberdade de imprensa', tampouco de 'acesso à informação' no caso concreto, pois o uso da imagem da autora (do processo, no caso, Manuela) não informa. Ao contrário, desinforma. Além disso, implica em ofensa à sua dignidade que deve ser reparada", diz trecho da decisão da juíza Tamara Benetti, do Tribunal de Justiça do RS.
Alvo frequente
Este não é o primeiro processo vencido por Manuela após ser alvo de fake news. Em 2022, o ex-deputado federal e à época presidente do antigo PTB, Roberto Jefferson, foi condenado a pagar R$ 10 mil após também associá-la ao incesto, em um evento.
Jefferson também foi condenado a indenizar a gaúcha após publicar em rede social uma imagem adulterada de Manuela vestindo camiseta com os dizeres falsos "Jesus travesti". Na verdade, a estampa dizia "rebele-se". O ex-deputado também a chamou de "anticristo". Nesse caso, Roberto Jefferson teve que desembolsar R$ 50 mil.
Carla Zambelli (PL-SP) também está na lista. Ela foi sentenciada ao pagamento de R$ 20 mil depois de postar, em 2022, montagem de Manuela com chifres demoníacos e o título "esquerda genocida". Era uma referência à decisão na Justiça colombiana de aprovar o aborto até a 24ª semana de gestação.
Em 2020, o Tribunal Regional Eleitoral (TRE-RS) ordenou que redes sociais excluíssem 91 links que associavam mentiras à Manuela, então candidata a prefeita de Porto Alegre.
— Nem sei quantos processos tenho, não consigo processar todas as pessoas, mas busco distribuir para que seja educativo. A Record tem detalhes piores em função do uso de uma concessão pública para distribuir desinformação. Essas decisões reconhecem a existência da prática, mas a multa (para a Record) ser tão baixa é um estímulo para o crime — avalia Manuela.