O jornalista Paulo Egídio colabora com a colunista Rosane de Oliveira, titular deste espaço.
Convidados pela Federasul a discutir o futuro do Rio Grande do Sul e a recuperação do Estado após a enchente de maio, cinco ex-governadores palestraram nesta quarta-feira (3) na reunião-almoço Tá na Mesa, no Palácio do Comércio. Jair Soares (PP), Pedro Simon (MDB), Germano Rigotto (MDB), Yeda Crusius (PSDB) e José Ivo Sartori (MDB) reivindicaram um suporte mais robusto do governo federal para a reconstrução.
Antes do evento, em entrevista coletiva, os políticos elogiaram ações do voluntariado durante a catástrofe, discutiram os termos da dívida com a União e ressaltaram que, ao longo da história, os gaúchos contribuíram com o desenvolvimento do país, sobretudo na produção agrícola.
A cobrança mais incisiva partiu de Simon, que governou o Estado entre 1987 e 1990. O ex-governador disse que as providências anunciadas até o momento estão aquém das necessidades e manifestou receio de que jovens migrem a outras regiões do país em busca de oportunidades.
— O presidente Lula e companhia têm de contemplar que o Rio Grande está um caos. Não estamos pedindo esmola, pedindo favor. Estamos em uma situação em que praticamente não podemos subsistir — frisou.
Para Yeda, há um "emperramento" na compreensão do que aconteceu no RS, apesar dos "movimentos visuais" do governo federal.
— Ainda não está mostrada a capacidade de encarar o fato como acontecido, que é algo absolutamente catastrófico, e que depende de orçamento.
Em sua participação, Rigotto defendeu medidas mais ágeis na construção de habitações, na recuperação do aeroporto Salgado Filho e no auxílio à manutenção de empregos. Ao mesmo tempo, preconizou a formulação de uma pauta unificada de reivindicações, que una o governo estadual, diferentes forças políticas, entidades empresariais, de trabalhadores e da sociedade civil.
— Precisamos de uma pauta específica, clara, em que todos falem a mesma linguagem e definam o que é prioritário e o que não é tão prioritário agora. Com um falando uma coisa e outro falando outra, enfraquece nossas ações.
Governador entre 1983 e 1987, Jair pregou que o governo federal chancele a contratação de um empréstimo vultoso para a reconstrução.
— Se não houver isso, não vamos recuperar o Rio Grande em tempo hábil.
Último dos cinco a ocupar o Piratini, Sartori também exaltou ações de solidariedade advindas do RS, de outros Estados e de outros países e salientou que a Constituição Federal prevê responsabilidade da União no combate a calamidades públicas.
— Me preocupa muito o grau dilatado da divergência e da partidarização que tomou o tema da recuperação do Estado, inclusive procurando antecipar o processo eleitoral. Vejo muito discurso político de quem deveria ajudar mais, e pouca prática — discursou.
O evento com os ex-governadores foi mediado pelo presidente da Federasul, Rodrigo Sousa Costa. O vice-governador Gabriel Souza também discursou no evento.
Contencioso
Coube a Jair Soares informar a ausência dos outros quatro ex-governadores na reunião-almoço. Alceu Collares (PDT) justificou dificuldades de saúde, Antônio Britto (eleito pelo MDB) relatou ter compromissos em São Paulo e Olívio Dutra (PT) informou que está em São Luiz Gonzaga.
— Tarso Genro pediu que eu dissesse ao presidente que tem um contencioso para resolver — disse Jair.
O "contencioso" entre Tarso e a Federasul data de 2018, quando a entidade não convidou o então candidato a governador Miguel Rossetto para participar de um debate.
Fim do silêncio
Com a breve participação na coletiva promovida pela Federasul, José Ivo Sartori concedeu a primeira entrevista desde que deixou o Palácio Piratini, em 1º de janeiro de 2019.
Voz ativa
Na Federasul, Jair Soares pregou a formação de um conselho consultivo dos ex-governadores para auxiliar o governo estadual
— Não se pode dispensar a experiência que cada um teve nos seus quatro anos. Estamos à disposição para ajudar.
No conselho do Plano Rio Grande, lançado pelo governo Leite para discutir a recuperação do Estado, está previsto assento aos ex-governadores.
Presidente do sindicato
Jair Soares é o elo mais forte entre os antigos habitantes do Palácio Piratini. Sartori o apelidou carinhosamente de "presidente do sindicato dos ex-governadores".