Apesar dos julgamentos sumários nas redes sociais, apontando o dedo de forma seletiva para este ou aquele personagem, a catástrofe climática que abalou o Rio Grande do Sul foi implacável com cidades governadas por prefeitos de esquerda, centro e direita. O governo estadual, que circunstancialmente é do PSDB, poderia ter feito obras de prevenção quando esteve nas mãos do MDB, do PT, do PDT ou do PP, à época chamado de PDS. Cobra-se de quem está no poder, porque alguém precisa responder pelo presente.
Dizer que se o vitorioso tivesse sido A ou B a situação teria sido diferente é exercício de ficção. Porque ninguém foi poupado pela fúria das águas e só escaparam de estragos maiores as cidades que adotaram medidas de prevenção ou foram beneficiadas pela geografia. Se a ideologia do prefeito da vez fosse determinante, a enchente não teria sido tão eclética.
Tome-se o caso da Região Metropolitana, arrasada pela cheia do Guaíba e dos rios que o alimentam e agravada por falhas nos diques de proteção. Das cidades com maiores estragos, Porto Alegre é governada por Sebastião Melo (MDB), desde 2021. Em São Leopoldo, Ary Vanazzi (PT) está no segundo mandato consecutivo, de um total de quatro.
Canoas é administrada por Jairo Jorge (PSD), pela terceira vez no comando da cidade. Eldorado do Sul tem um prefeito que é quase vitalício, Ernani Gonçalves (PDT). Marcelo Maranata, de Guaíba, também é do PDT e está no primeiro mandato. Esteio é do PL, mas Leonardo Pascoal foi eleito pelo PP. Sapucaia do Sul é do PP, com Volmir Rodrigues, Novo Hamburgo do MDB, com Fátima Daudt, eleita pelo PSDB. No Interior, a situação se repete: a enchente foi eclética.
ALIÁS
As mudanças no Código Ambiental poderão ter impacto no futuro, mas não há como estabelecer, ainda, relação de causa e efeito entre elas e a chuvarada que castigou o Rio Grande do Sul em setembro ou que bateu todos os recordes no mês de maio.
Décadas de descaso
Seria mais razoável atribuir a tragédia climática ao descaso de décadas com o meio ambiente, incluindo a destruição da mata ciliar, o desmatamento, a urbanização desordenada e as emissões de carbono, do que focar em mudanças recentes de legislação.