O espaço na coluna Política+, que assino desde 2003, foi pequeno para contar nos detalhes a história da salvação de uma escola pública que, ao lado de outros colegas, especialmente de Marcelo Rech e Tulio Milman, defendi com unhas e dentes nos últimos anos. Trata-se da Escola Estadual Maria Thereza da Silveira, localizada no que se convencionou chamar de “um bairro nobre”, pelo alto valor dos terrenos. Instalada como uma "brizoleta" no tempo em que o Mont Serrat era periferia, a escolinha foi reconstruída e hoje é um prédio modelar, mas esteve muito próxima de virar um edifício comercial, de apartamentos ou simplesmente estacionamento de um empreendimento vizinho.
No dia 27 de julho do ano passado escrevi um texto com o título “Como matar uma boa escola em poucos anos”. Era a receita que começou a ser aplicada vários anos antes, de restringir as matrículas até que não houvesse mais alunos. Não vou retomar a história do esvaziamento da Escola Maria Thereza, porque o objetivo aqui é fazer justiça a quem garantiu o renascimento, a começar pela ex-diretora Maria Emília Provenzano, que disparou o sinal de alerta quando soube que o terreno seria vendido.
Sem a obstinação do vereador Pedro Ruas e do conselheiro Cezar Miola, do Tribunal de Contas do Estado, um homem que fez da qualificação da educação o seu propósito de vida, é provável que as ponderações dos jornalistas tivessem caído no vazio. Sim, porque nós não somos o “quarto poder”, como se dizia dos nossos ancestrais. Somos pessoas que acreditam no poder da educação para transformar um país e que não se conformam de ouvir que um “bairro nobre” não é lugar para uma escola de crianças pobres.
Ruas tentou uma manobra que não tinha como dar certo: o tombamento da escola pelo Patrimônio Histórico, porque um dia foi uma “brizoleta” e porque ali estudaram os netos de Leonel Brizola. A Câmara aprovou, mas o prefeito Sebastião Melo vetou, alegando que a escola é patrimônio do Estado e que só poderia ser tombada se o governo estadual se comprometesse a mantê-la como escola de Ensino Fundamental.
Ora, o prefeito sabe que a política da Secretaria da Educação é transferir todo o Ensino Fundamental 1 para as prefeituras no médio prazo. A Secretaria da Educação chegou a oferecer o prédio à prefeitura para que ali funcionasse uma escola de Educação Infantil, mas a Smed rejeitou alegando que não havia demanda naquele bairro.
Eu, que ainda conservo o romantismo dos 17 anos, quando entrei na faculdade, cheguei a sonhar com a transformação da Maria Thereza em escolinha para os filhos de homens e mulheres que trabalharão no novo shopping a ser inaugurado neste ano a poucos metros do cobiçado terreno ou para as mães que fazem faxina nos escritórios da Carlos Gomes, a nossa Avenida Paulista. Ingenuidade, o que não combina com meus 42 anos de profissão.
Quando estava por perder a esperança, a secretária Raquel Teixeira devolveu minha confiança na sensibilidade dos gestores públicos e anunciou com exclusividade para a coluna que a Maria Thereza da Silveira será uma escola de ensino técnico, oferecendo cursos que permitirão aos jovens se qualificar para vagas que sobram no mercado de trabalho. Raquel, uma goiana trazida pelo governador Eduardo Leite para comandar a Educação, encontrou um destino nobre para a escola que poderia ter virado pó.
Eu poderia dizer que Leite e Raquel não fizeram mais do que a obrigação, mas tendo acompanhado a saga de Ruas e Miola para salvar a escola, preciso ser justa e dizer que a secretária e o governador merecem nosso reconhecimento. Salvar uma escola pode ser uma gota d’água no mar de problemas a serem resolvidos, mas, junto com a reforma de prédios que estavam (alguns ainda estão) completamente deteriorados, é um sopro de esperança para quem acredita na educação como o caminho para o desenvolvimento do Estado.