Convivo com a menina Gabriela Tedesco Klein desde antes de seu nascimento. Moramos no mesmo prédio, nos encontramos na garagem desde que ela andava no colo da mãe, na cadeirinha do carro e dando os primeiros passos, mas na pressa do dia a dia sei pouco sobre ela. Lembro da menina esperta indo para a escola de mãos dadas com o pai e, de repente, a vejo pré-adolescente lançando seu primeiro livro, Enilorac, a viajante. É um livro de gente grande, pela concepção e pela execução.
Gabi tem uma imaginação que, como sua protagonista Caroline, viaja no tempo e no espaço sem preocupação com verossimilhança. Sabe que a fantasia, como nos sonhos, não tem limite. Harry Potter não existiria se J. K. Rowling se preocupasse com a fronteira entre o possível e o impossível. Para crianças/adolescentes como Gabi, a pandemia foi tempo de leitura e reflexão. Ela confirma a tese de que só quem lê consegue escrever bem. Ama livros de histórias mágicas e personagens misteriosos. Adora a arte em todas as dimensões e gosta de desenhos coloridos com um toque de magia.
Sem a pretensão de fazer crítica literária, que não tenho formação para tanto, falo de livros na condição de leitora, e posso dizer que Gabriela Tedesco Klein tem futuro como escritora. É animador, nestes tempos em que tantos jovens e adultos têm vocabulário restrito e não conseguem ir além das redes sociais, encontrar uma menina que entende o valor das palavras e não tem medo de voar nesse universo fascinante.
Sem medo das comparações
O peso de carregar o sobrenome Carpi Nejar e de ter irmão, mãe e pai como poetas consagrados não intimidou o promotor de Justiça Rodrigo Carpi Nejar a embarcar nesse mundo, que até aqui se imaginava exclusivo da parte mais conhecida da família. No livro Insana lucidez, Rodrigo prova que na vida do homem de notório saber jurídico há espaço de sobra para a poesia de qualidade.
Poesia exige coragem. Poesia feita por um irmão do consagrado Fabrício Carpinejar, filho de Maria Carpi e de Carlos Nejar, imortal da Academia Brasileira de Letras, exige coragem tripla. E Rodrigo a teve.
Não sei desde quando escreve e lapida seus versos agora conhecidos, mas é prazeroso ler as linhas e entrelinhas dos seus poemas. Nada é óbvio nos versos intimistas de Rodrigo. É preciso ler seu livro desarmado e sem fazer comparações familiares, porque estamos diante de um poeta único.
Metáfora de liberdade
Quem olha para a delicada capa de Baby Milo (Editora Libretos), livro de estreia de Ana Stela Goldbeck, imagina que se trate de uma história infantil. Porque é ilustrada por Débora R. Fraga com dois simpáticos porquinhos-da-índia. Não deixa de ser, mas qualquer adulto com um mínimo de sensibilidade vai se encantar com essa história de uma família de simpáticos bichinhos que buscam a liberdade e, pelo caminho, deixam lições de amor, amizade, companheirismo e superação.
Stela, como a conheço há quase 40 anos, é formada em Farmácia e Bioquímica. Passou a maior parte da vida entre tubos de ensaio, fórmulas e pesquisas em saúde. Encerrado esse ciclo, dedica-se a escrever, e cada frase (até nas postagens das redes sociais) tem a excelência de quem persegue a perfeição. Assim Stela define sua atividade atual: “Dedico meu tempo à criatividade e imaginação, colocando asas em palavras. Liberto-as, aladas, para borbo(letra)rem por aí”.
Se eu tivesse de definir Baby Milo em poucas palavras, diria que é um canto à liberdade.