Mais de três anos se passaram desde que o então presidente Jair Bolsonaro deu por inaugurada a nova ponte do Guaíba, que recebera de Michel Temer com 93% das obras concluídas. A ponte não estava pronta: faltavam quatro alças em Porto Alegre, incluindo a que permite entrar na ponte saindo do Centro pela Avenida Castello Branco. O problema não era falta de dinheiro para o concreto ou algum erro de projeto, mas a existência de 640 famílias que precisavam ser realojadas.
São pessoas invisíveis aos olhos da burocracia federal, que moram especialmente na Vila Tio Zeca. Pessoas marginalizadas, que não recebem os serviços públicos necessários porque estão em uma área de onde cedo ou tarde serão removidos.
Três anos depois, a ponte continua do mesmo jeito: inacabada, ainda que tenha resolvido o problema de quem vai do interior para o Sul do Estado ou de quem vem do Sul para Porto Alegre, Litoral ou Norte do Estado. As famílias seguem invisíveis, mesmo que estejam diante dos nossos olhos, ali à direita dos esqueletos de concreto que deveriam ser as alças de acesso.
Da primeira vez que esteve em Brasília, no início de 2021, como secretário de Habitação, em busca de uma solução para essas famílias, o jornalista André Machado ouviu de uma autoridade que, para o governo, a ponte estava "tecnicamente pronta". Com André estava o vice-prefeito Ricardo Gomes.
O secretário mostrou que a ponte não estava pronta. Faltavam as alças e, para isso era necessária a remoção das famílias e seu reassentamento em outra área. Nada foi feito em 2021 e 2022, até porque o plano do então ministro Tarcísio Gomes de Freitas era repassar a ponte para a iniciativa privada, num pacote de concessão que incluiria a BR-116 Sul e a BR-290 a partir de Eldorado do Sul.
Veio o governo Lula e o secretário imaginou que tendo sido concebida e iniciada na gestão de Dilma Rousseff seria obra prioritária. André Machado procurou o ministro Paulo Pimenta, único gaúcho no ministério, e ouviu dele que, sim, a conclusão da ponte estaria entre as prioridades. O mesmo disse Pimenta em entrevista à Rádio Gaúcha. O ano está terminando e tudo o que se tem é a inclusão das obras no novo PAC.
Em agosto, o repórter Jocimar Farina mostrou que dos R$ 84 milhões destinados à construção das alças em março deste ano, R$ 74 milhões foram redirecionados para outras obras porque não havia como aplicar o dinheiro. E por que não havia? Porque não há nenhum contrato vigente. São necessárias quatro contratações diferentes: quem irá atualizar o projeto, quem irá atualizar o cadastro de famílias reassentadas, quem irá executar e quem irá supervisionar a construção.
O Dnit propôs uma parceria à prefeitura, pela qual o governo federal liberaria os recursos e o município se encarregaria do reassentamento. A prefeitura deverá apresentar uma contraproposta, já que não tem condições de construir as casas nem pessoal para conduzir a negociação para a chamada compra direcionada, em que a pessoa recebe uma indenização condicionada à compra de outro imóvel.