O jornalista Fábio Schaffner colabora com Rosane de Oliveira, titular desta coluna
Eduardo Leite está sendo vítima do próprio vaticínio. Em diversas ocasiões no passado, o governador salientou não acreditar na reeleição, descrente da possibilidade de se fazer novo mandato melhor do que o primeiro.
Passados nove meses de sua segunda gestão, o tucano não tem uma pauta legislativa de impacto em andamento, e as ações do governo tardam a sair do papel em razão da burocracia e da demora de auxiliares.
Na educação, tida como prioridade na campanha, o ritmo é lento. Somente um terço das obras prometidas para este ano foi concluído. Outro terço está em andamento, e o restante não começou. Lançada em agosto, a inédita parceria com a iniciativa privada para administrar a infraestrutura de mais cem escolas só será licitada no segundo semestre de 2025, véspera de ano eleitoral. A ruidosa saída de Paulo Burmann da Diretoria-Geral da pasta escancarou problemas em ações.
Leite aprovou a reforma do IPE Saúde e privatizou a Corsan, medidas robustas levadas a cabo neste 2023, mas tem dificuldade em manter o bloco na rua. As adversidades ficaram evidentes já no início, quando tomou posse sem um quarto dos secretários titulares. No Esporte, Danrlei só assumiu em março. No Turismo, Vilson Covatti está de licença há três meses.
Com a agenda governista reduzida na Assembleia Legislativa, os deputados avançam sobre o Executivo. O Republicanos quer assento no secretariado, MDB e PDT reivindicam mais espaço e nomeações acertadas demoram a ganhar tinta no Diário Oficial.
Leite já demonstrou que sabe tirar as meias sem descalçar os sapatos. Reformou a máquina pública como inquilino algum do Palácio Piratini jamais ousara, quebrou o tabu das privatizações e botou as finanças em dia. Arrematou a façanha conquistando uma reeleição que virou case de ciência política mais pelo drible na polarização do que pelo ineditismo da vitória num Estado que nunca concedera segunda chance a um governador.
Conselheiros, comensais e subordinados têm notado a impaciência e a preocupação do tucano com o segundo mandato. Mas também dizem que é astuto e ambicioso, alimentando pretensões presidenciais em 2026. Se política é esperar o cavalo passar, como ensinava Getúlio Vargas, Leite precisa estar com os arreios à mão.