Ser a favor do direito dos palestinos a ter uma pátria não deve impedir ninguém de condenar os atos terroristas praticados pelo Hamas no fim de semana que está sendo chamado de 11 de Setembro de Israel. Tampouco significa passar a mão na cabeça do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, que cometeu uma sequência de erros políticos e estratégicos e deixou o país vulnerável.
Os membros do governo brasileiro, que sempre apoiaram abertamente a causa palestina, não devem ter medo de dar ao Hamas a qualificação de grupo terrorista. É isso o que o Hamas é, pelos métodos que usa regularmente e que usou na madrugada e no amanhecer sangrento de sábado. Isso não significa dar aval aos atos praticados por Israel contra civis palestinos.
O que não pode é tratar o ataque como se fosse uma reação legítima dos oprimidos. Sabe-se que o Hamas não representa a Autoridade Palestina e que seus atos acabam jogando contra os próprios palestinos. Os líderes do grupo sabiam que Israel iria revidar usando sua superioridade bélica e que milhares de palestinos acabarão morrendo nessa guerra.
Em sua primeira manifestação, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) usou as redes sociais para uma manifestação. Disse que o "Brasil não poupará esforços para evitar a escalada do conflito, inclusive no exercício da presidência do Conselho de Segurança da ONU". Lula se declarou chocado "com os ataques terroristas contra civis em Israel, que causaram numerosas vítimas", mas não fez uma condenação explícita ao Hamas.
O malabarismo verbal dos políticos da esquerda brasileira que se recusam a condenar o Hamas abre um flanco para que a direita ocupe espaço distorcendo a verdade e tratando a defesa dos palestinos como apoio ao terrorismo. De novo, é preciso repetir o óbvio: o Hamas é um grupo terrorista, mas os palestinos são um povo sem pátria, que há anos luta para ter um país.
Nessa luta, já foram alvo de massacres abomináveis, como o dos campos de Sabra e Chatila, no Líbano, em 1982, quando milicianos cristãos aliados de Israel executaram centenas de palestinos e libaneses. A história da região é pródiga em atrocidades, mas a busca da paz não pode se dar pela leniência com os que adotam a violência como método.