O jornalista Bruno Pancot colabora com a colunista Rosane de Oliveira, titular deste espaço
Considerada pelo PCdoB o principal nome da esquerda em Porto Alegre, a ex-deputada Manuela D´Ávila teve o nome ungido pelo comitê municipal, no último sábado (8), como a representante do partido para as eleições de 2024. Faltando um ano e três meses para a disputa eleitoral, as legendas que fazem oposição a Sebastião Melo (MDB) na Capital mantêm conversas esporádicas nos últimos meses e ainda não definiram os nomes que estarão nas urnas.
Se depender da vontade do PCdoB, Manuela sairá candidata. A pretensão, no entanto, esbarra no histórico recente da ex-deputada, que vem se dedicando à carreira de escritora e aos estudos após a disputa de 2020, quando perdeu no segundo turno para Melo. No ano passado, Manuela não disputou nenhum cargo e trabalhou na campanha de Alexandre Kalil (PSD) ao governo de Minas Gerais.
No momento, a ex-deputada está fazendo doutorado nos Estados Unidos, onde deve permanecer por um ano. Por isso, a possibilidade de vir a concorrer é vista com ceticismo por outros partidos de esquerda, como PT e PSOL, que fazem elogios e pregam respeito à história da aliada, mas lembram que ela vem se afastando das eleições nos últimos anos.
Conforme a presidente do PCdoB em Porto Alegre, deputada estadual Bruna Rodrigues, a decisão do partido não é uma imposição de que Manuela deve compor a chapa da esquerda para concorrer à prefeitura, mas um indicativo de que ela terá voz e participação ativa na disputa.
O PCdoB também defende a importância de incluir a bancada negra no debate para a composição, e ressalta a necessidade de ampliar a aliança com legendas como PDT e PSB.
— A Manuela se coloca à disposição. Não se coloca como candidata, porque acha que precisamos dialogar primeiro, construir um projeto. Mas se o campo da esquerda entender que ela é o melhor nome, ela se coloca à disposição — contextualiza Bruna.
À coluna, Manuela disse que segue participando de conversas para a construção de um projeto para a Capital e defendeu a unidade da esquerda "como ponto de partida para a ampliação necessária para construir a vitória".
— Tenho me dedicado a atividades profissionais normais de uma pessoa que não exerce mandatos parlamentares ou cargos públicos e, por isso, trabalha na iniciativa privada. Além disso, escrevo e estou me dedicando ao doutorado. O que falei ao PCdoB é que colocar nomes (o meu ou qualquer) na frente do processo de unidade e de programa não me parece a tática de quem quer construir unidade — afirmou a ex-deputada.
O vereador Pedro Ruas, um dos nomes da federação PSOL-Rede que capitaneia as conversas sobre a montagem de uma aliança de esquerda, avalia que a indicação de Manuela é um "direito do PCdoB", assim como "o PSOL também tem as suas preferências". Ruas considera que a definição da chapa ainda dependerá de uma série de conversas e negociações entre os partidos.
— A unidade é fundamental para termos uma vitória no ano que vem, que possa livrar Porto Alegre do bolsonarismo que é o governo Melo. É um compromisso de toda a esquerda, e o nome da Manuela é um dos mais importantes. Não é o único, há outros nomes — observa Ruas.
Presidente do PT em Porto Alegre, Maria Celeste de Souza prega que o momento é de discutir um programa conjunto para a cidade, sem ainda apontar os nomes para a chapa. Maria Celeste diz que Manuela é um "excelente nome" para concorrer à prefeitura, mas também cita quadros do PT como o presidente da Conab, Edegar Pretto, as deputadas federal Maria do Rosário e estadual Sofia Cavedon e o ex-governador Olívio Dutra.
— O PT faz questão de estar na chapa majoritária, mas não seremos impeditivo para construir essa forte aliança de esquerda. Pela nossa característica, pelos nossos nomes e capacidade política, queremos sinalizar um nome para a majoritária.
Em 2022, no segundo turno, Lula teve 53,5% dos votos válidos em Porto Alegre, contra 46,5% do então presidente Jair Bolsonaro. Os percentuais são lembrados como trunfo da oposição na disputa municipal.