Nos dias que precederam a votação da reforma tributária, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, trabalhou — e muito — nos bastidores. À imprensa, vez que outra dava uma daquelas entrevistas chamadas de quebra-queixo, com os jornalistas se debatendo para conseguir fazer uma pergunta à porta do ministério. Nesta segunda-feira (10), a GloboNews mostrou um outro Haddad na entrevista à jornalista Natuza Nery, no podcast O Assunto.
Sorridente, sem as marcas de tensão dos dias anteriores, Haddad falou como nunca tinha falado nos primeiros seis meses de governo. Estava tão relaxado que aceitou o desafio proposto por Natuza, de comprovar que sabe tocar violão. A linguagem corporal, combinada com as palavras ditas na entrevista, confirmam que a Haddad é o principal ministro do time do presidente Lula e, como ele disse, sobreviveu ao fogo "amigo e inimigo":
— O amigo e o inimigo. O fogo diminuiu. Eu tô me sentindo menos na frigideira do que eu estava três meses atrás.
Em seguida, explicou por que se referia ao fogo amigo:
— O meu partido tá cheio de gente de opinião, que pensa diferente, que estudou outra coisa. Eu não deixo também de conversar com o PT, de ir às reuniões da executiva, de explicar o que eu tô fazendo.
Sim, o ministro da Fazenda tem inimigos do PT, sobretudo a ala comandada pela presidente Gleisi Hoffmann, que não concorda com as ideias que quebraram resistências na Faria Lima (sinônimo de mercado financeiro) e entre os empresários. Com talento, simpatia e um repertório conciliador, o ministro foi o fiador da nova proposta de arcabouço fiscal, substituto do teto de gastos, e da reforma tributária que poucos acreditavam fosse aprovada, depois de tantos anos de muito discurso e pouca ação.
Otimista em relação ao futuro, o ministro disse que a reforma tributária começa a produzir resultados antes mesmo da implementação da primeira mudança, porque devolve a confiança perdida nos últimos anos. E definiu os últimos anos como uma década trágica:
— Nós não podemos voltar a continuar crescendo 1% em média, que foi o que aconteceu na última década. Foi uma década trágica na história brasileira. De 2013 a 2022, foram 10 anos que vão marcar a nossa história e são anos que vão ensejar muitos estudos para saber o que de fato aconteceu. Espero que essa década tenha ficado para trás e que 2023 inaugure um novo ciclo.
Se a eleição fosse neste ano, Haddad seria candidato a repetir Fernando Henrique Cardoso (PSDB), que saiu do Ministério da Fazenda para o Planalto na eleição de 1994. Mas a eleição não é neste ano. Faltam mais de três anos para os brasileiros escolherem o sucessor de Lula, que terá 80 anos e, depois de três mandatos, poderá abrir mão de disputar a reeleição. Seu futuro, claro, depende dos resultados que o governo Lula conseguir na área econômica e, também, na social.