Bem que o tenente-coronel Mauro Cid cantou a pedra, mas Michelle Bolsonaro não quis ouvir. Agora, conversas guardadas na nuvem como esqueletos no armário vêm a público com a quebra de sigilo do telefone do ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro e revelam uma mutreta que o próprio coronel compara às rachadinhas do senador Flávio Bolsonaro.
A história revelada pelo colunista Aguirre Talento, do UOL, parece roteiro de série de ficção. Mas o telefone do coronel Cid é real e a cada dia fornece novos elementos para as investigações da Polícia Federal. A operação que colocou Cid na cadeia começa pela investigação de uma falsificação de carteiras de vacinação contra a covid-19 e chega em outros delitos envolvendo o casal.
Michelle, em princípio, não tem nada a ver com a falsificação da carteira de vacinação do marido. Talvez tenha pedido ao coronel Cid para resolver o problema da filha caçula, que não foi vacinada por convicção do pai e precisava entrar nos Estados Unidos. Não é a carteira da filha de 12 anos que deve tirar o sono de Michelle, mas suas operações financeiras, um subproduto da investigação.
Já tinha causado estranheza, logo no início do governo, os depósitos feitos na conta de Michelle com cheques de Fabrício Queiroz, o homem por trás das transações com dinheiro vivo envolvendo Flávio. À época, o então presidente da República justificou os depósitos com uma explicação que só convenceu seus apaixonados seguidores: ele teria emprestado dinheiro a Queiroz, que pagou com cheques. Como estava em Brasília, e tinha dificuldades para ir a uma agência bancária, repassou os cheques a Michelle, que os depositou em sua conta.
Agora, o telefone do coronel Cid entrega que esse hábito de pagar contas com dinheiro vivo é costume de família. Os Bolsonaro usaram dinheiro em espécie para comprar imóveis. Michelle, para quitar o boleto do cartão de crédito. No caso dela, já tinha chamado atenção o fato de fazer compras com o cartão de crédito de uma amiga que trabalha no gabinete de um senador.
As mensagens armazenadas na nuvem revelam uma conversa de duas assessoras de Michelle com o coronel Cid, preocupadas com a possibilidade de, um dia, a imprensa ou o Ministério Público descobrirem as tretas no pagamento de contas. Por que as contas de Michelle importam, afinal, se ela não é autoridade? Porque podem, segundo o próprio Cid e as duas assessoras, configurar rachadinha. “É a mesma coisa do Flávio”, diz Cid numa das mensagens.