No primeiro momento, a eleição de 2022 trouxe uma boa notícia, garantida pela proibição de coligações: caiu de 30 para 23 o número de partidos com representação no Congresso. Essa depuração é necessária porque boa parte dos que ficam pelo caminho são partidos nanicos, criados para satisfazer interesses de seus donos. A cláusula de barreira já começou a produzir fusões e incorporações. O Solidariedade incorporou o Pros e ficou com oito deputados para continuar tendo direito aos fundos partidário e eleitoral e ao tempo de rádio e TV, ativos que não estarão ao alcance dos que não têm representatividade.
No Rio Grande do Sul, a divisão que ocorre nacionalmente se reproduz no PSDB e no MDB, com uma novidade regional: o apoio formal do PP a Onyx Lorenzoni (PL) rachou de vez o partido que disputou a eleição com Luis Carlos Heinze e ficou em um humilhante quarto lugar, com 4,28%. A ala fiel a Eduardo Leite (PSDB) decidiu ignorar as ameaças de retaliação e assumiu nesta terça-feira (18) que vai fazer campanha para o ex-governador, invocando a parceria de mais de três anos, com ocupação de cargos e aprovação dos projetos do governo.
Que impacto têm essas opções no futuro do PP? Depende do resultado da eleição, mas o PP, com sete deputados estaduais, deverá ser base do governo em qualquer circunstância.
O MDB gaúcho vem dividido desde o primeiro turno, quando a convenção aprovou a aliança com Leite e indicou Gabriel Souza como vice. Dos caciques, apenas o ex-prefeito José Fogaça, o ex-governador Germano Rigotto e o ex-ministro Eliseu Padilha se engajaram na campanha. Outros, como Pedro Simon e José Ivo Sartori, submergiram. Os deputados se dividiram em três grupos: os aliados de Leite, os cabos eleitorais de Onyx e os omissos.
O prefeito Sebastião Melo disse que respeitaria a decisão da convenção, mas não se engajou na campanha. Na semana passada, a ala do diretório de Porto Alegre ligada a Melo e a seu filho Pablo aprovou o apoio a Onyx, provocando indignação nos prefeitos que estão com Leite e Gabriel e no presidente do MDB, Fábio Branco.
Se Onyx ganhar, a ala que ficou com Leite sairá fragilizada e os deputados que se aliaram a ele, como Osmar Terra e Patrícia Alba, ganharão força. Sendo Terra forte candidato a uma vaga no secretariado, o suplente Marco Alba, ex-prefeito de Gravataí, herdará a cadeira na Câmara. O prefeito Sebastião Melo (que na quinta-feira, dia 20, deve formalizar a entrada na campanha do candidato do PL) sairá fortalecido. Ao mesmo tempo, seu projeto de disputar o Piratini em 2026 ficará prejudicado porque Onyx será candidato natural à reeleição.
Se Leite vencer, Gabriel Souza passa a ser o candidato preferencial à reeleição, com o apoio do PSDB. E o MDB, como partido do vice, estará automaticamente no governo, ocupando secretarias importantes com a ala que se manteve fiel. Nesse grupo estão os deputados federais Márcio Biolchi e Giovani Feltes, que não se reelegeu, e parte da bancada estadual.
O futuro do PSDB no Estado passa pelo resultado da eleição. Em caso de vitória de Leite, ele passa a ser o principal líder nacional, dado o desempenho pífio na eleição de deputados federais e senadores e à derrota sofrida em São Paulo, onde sequer chegou ao segundo turno e está irremediavelmente rachado. O outro Estado importante é Pernambuco, onde Raquel Lyra é favorita para vencer a eleição.
ALIÁS
Com o desempenho que teve nas urnas, o PSDB não terá musculatura para uma campanha competitiva ao Planalto em 2026. É melhor começar a se preparar para indicar o vice de Simone Tebet (MDB), que pode crescer se o Brasil encerrar neste ano o ciclo de disputa entre lulismo e bolsonarismo.