É possível que o apoio da ex-senadora e ex-ministra Marina Silva (Rede), anunciado na segunda-feira (12), não acrescente um voto a mais ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Porque os dois estão do mesmo lado do espectro ideológico, dificilmente ela trará algum eleitor que já não esteja com Lula, a menos que consiga influenciar o eleitorado evangélico, mais afinado com o presidente Jair Bolsonaro.
Marina não tem, entre os 11 candidatos a presidente, outro de quem seja mais próxima, apesar de ter dito, no início do ano, que não haveria força humana capaz de obrigá-la a apoiar Lula. O que fez Marina mudar de ideia? A falta de opção e o desejo sincero de evitar a vitória de Bolsonaro.
Em nome dessa “causa maior”, Marina perdoou o que o PT fez com ela na eleição de 2014. Recapitulando para quem não lembra: Marina era vice de Eduardo Campos (PSB), que vinha crescendo nas pesquisas quando morreu em um acidente aéreo em agosto. O partido e a viúva de Campos a indicaram para a cabeça de chapa e Beto Albuquerque tornou-se candidato a vice.
Quando Marina começou a subir nas pesquisas e os estrategistas da campanha de Dilma Rousseff perceberam que ela poderia ameaçar o projeto de reeleição, trataram de desconstruir sua candidatura. O marqueteiro João Santana promoveu, no horário eleitoral gratuito, um verdadeiro massacre da reputação da candidata da Rede. Como esquecer da comida que sumia do prato dos brasileiros em caso de vitória de Marina? Funcionou e Dilma foi para o segundo turno com Aécio Neves (PSDB), que parecia um adversário mais fácil de derrotar, por suas fragilidades.
Dilma se reelegeu, mas Aécio, inconformado, trabalhou desde o início para desestabilizá-la e foi peça importante no processo de impeachment, em conluio com o então presidente da Câmara, Eduardo Cunha (MDB) e com o vice-presidente Michel Temer.
Marina submergiu por quatro anos e reapareceu em 2018. Como candidata a presidente, foi um fracasso retumbante. Fez 1% dos votos, menos que o Cabo Daciolo, aquele que se notabilizou pelo furor religioso e pelo uso da expressão “Glória a Deus” ao fim de cada frase.
Mesmo que seu eleitorado de ocasião tenha se esboroado, o apoio de Marina a Lula tem importância para a imagem do candidato, principalmente no Exterior. Marina tem prestígio como ambientalista, foi expurgada do governo Lula justamente por querer, como ministra, proteger e Amazônia em vez de construir hidrelétricas nos rios Madeira.
Evangélica, Marina mostrou que sabe perdoar.