Em vantagem nas principais pesquisas de intenção de voto, o ex-presidente Lula soltou o freio de mão — mais precisamente a trava da língua — e desceu lomba abaixo com uma declaração inoportuna e infeliz. Cometeu o pecado da generalização ao comparar as manifestações de 7 de Setembro, estimuladas pelo presidente Jair Bolsonaro, a uma reunião da Ku Klux Klan. Deveria pedir desculpas, com urgência, para tentar conter o estrago.
Em um comício em Nova Iguaçu, na noite de quinta-feira (8), Lula soltou o verbo ao se referir a Bolsonaro:
— Fez da festa do nosso país uma festa pessoal. Aliás, Dilma, eu não sei se você viu na televisão. Foi uma coisa muito engraçada, que no ato do Bolsonaro parecia uma reunião da Ku Klux Klan. Só faltou o capuz, porque não tinha negro, não tinha pardo, não tinha pobre, não tinha trabalhador.
A Ku Klux Klan é uma organização racista dos Estados Unidos, conhecida pelo uso de capuzes. Ao generalizar, comparando os manifestantes que se vestiram de verde e amarelo na quarta-feira (7) em quase todas as capitais brasileiras e em cidades de diferentes portes, o ex-presidente teve um comportamento preconceituoso, desrespeitoso, infantil e nada inteligente, dado que suas palavras voltarão como bumerangue para atingi-lo na propaganda eleitoral em um momento crítico da campanha.
É legítimo discordar e criticar o uso eleitoral do bicentenário da Independência, mas carimbar as pessoas que participaram da manifestação como racistas (o que é crime no Brasil) vai além da liberdade de expressão que todos defendemos.
Como era de se esperar, os adversários reagiram com duras críticas, a começar por Bolsonaro, que usou as redes sociais para comentar a manifestação do adversário. Bolsonaro disse que Lula se sentiu excluído após ver um vídeo da manifestação.
“Parece que o ex-presidiário se sentiu excluído após esse vídeo. Em resposta, chamou o povo de ‘cuscuz clã’, talvez porque assistiu a milhões de brasileiros vestindo amarelo”, escreveu o presidente ou quem cuida de suas redes sociais.
O vídeo em questão mostra pessoas vestidas de verde e amarelo repassando uma nota de R$ 5 entre os participantes do ato para comprar uma água. Um homem diz: “A água está voltando, hein? Aqui não tem ladrão não”.
Ciro Gomes também usou as redes sociais para criticar Lula. Escreveu o candidato do PDT em uma sequência de três posts:
“É tão grande a quantidade de absurdos ditos, diariamente, por Lula e Bolsonaro, que parte da sociedade brasileira já os encara como normais. Depois dos ‘imbrocháveis’ do dia 7, agora é a falsa divindade da esquerda que chama os bolsonaristas de membros da Ku Klux Klan (...)".
“É este o homem que quer pacificar o país? É este o entendimento que ele tem do fenômeno que fez eclodir o bolsonarismo? É esta a autocrítica por ser, ele mesmo, um dos responsáveis diretos pelo radicalismo que hoje domina nossas ruas? (...)”, segue Ciro.
“Chamar indistintamente uma plateia, mesmo que de seguidores frenéticos, de membros da Ku Klux Klan, é tão grave e desrespeitoso quanto chamar alguém de nazista. Mas como desculpa e autocrítica não cabem na boca desta falsa divindade (Lula), tudo vai ficar por isso mesmo.”