Eram 19h19min desta sexta-feira (9) quando a Secretaria da Segurança Pública divulgou em seu site os índices de criminalidade do mês de agosto. Qual a relevância de destacar a hora e os minutos da publicação? O contraste entre a forma como eram divulgados os resultados quando os números eram motivo de comemoração.
É verdade que o governo não varreu os dados para debaixo do tapete, mas os divulgou de forma tão discreta que foi impossível não lembrar a máxima do ex-ministro Rubens Ricupero, no célebre vazamento de um áudio quando se preparava para dar uma entrevista em 1994:
— O que é bom a gente divulga, o que é ruim a gente esconde.
O Piratini não escondeu, mas escolheu o início da chuvosa noite de sexta-feira para tornar públicos os números.
A estatística de agosto é desanimadora naquele que é o crime mais preocupante: o homicídio. A curva que vinha descendente desde 2015, teve uma pequena elevação em 2021 e apontou para o alto neste ano, com o crescimento de 32,2% nos homicídios em agosto, fruto da guerra do tráfico.
Em agosto de 2014, o pior ano desde 2005, foram 240. No ano seguinte, 234. De queda em queda, chegaram a 96 em 2020, número comemorado pelo então governador Eduardo Leite e pelo vice, Ranolfo Vieira Júnior, à época secretário da Segurança Pública. A guerra das facções elevou o número para 115 em agosto de 2021 e bateu em 152 neste ano. Setembro tende a ser ainda pior, dados os resultados nestes primeiros 10 dias, com o acirramento da disputa pelo tráfico de drogas.
A disparada dos homicídios ofuscou as boas notícias do balanço: os latrocínios caíram 25% em agosto (18,6% no acumulado dos primeiros oito meses do ano) e os feminicídios caíram pela metade (de 14 para sete, o que ainda é um número preocupante). Desde janeiro, o Rio Grande do Sul contabiliza 75 feminicídios, três a mais que nos oito meses iniciais de 2021, o que equivale a um aumento de 4,2%.
Caíram também os roubos de veículos, os roubos a transporte coletivo e os abigeatos, mas os ataques a banco subiram de zero em agosto de 2021 para três no mês passado. Se considerar que em 2014 foram 32 em agosto, o número ainda é indicativo do sucesso da estratégia de combate às quadrilhas especializadas nesse tipo de crime.