Sugerida pelos governistas como instrumento para forçar a queda de preços dos combustíveis ou, no mínimo, passar à população a ideia de que alguma coisa está sendo feita, a CPI da Petrobras passou de factoide a assombração. Imagine-se uma CPI que quebrasse o sigilo dos telefones funcionais dos diretores da Petrobras, depois de o ex-presidente Roberto Castello Branco ter dito que entregou o dele intacto, com mensagens que incriminariam o presidente Jair Bolsonaro (PL).
Políticos experientes sabem que não se brinca de CPI. Essas costumam ser um instrumento de oposição e, por isso, os governos fazem das tripas coração para evitar a instalação ou, no mínimo, assumir o controle para impedir que avancem. Senadores desconfiam que quando Bolsonaro sugeriu a CPI para investigar a conduta dos dirigentes que se recusavam a interferir nos preços dos combustíveis estava fazendo jogo de cena e nada mais. Com as afirmações de Castello Branco, que se tornaram públicas em um grupo de WhatsApp de economistas, o governo tem sobradas razões para esquecer a CPI da Petrobras e se preocupar com a que já tem as assinaturas para ser criada, a do Ministério da Educação.
A informação divulgada pelo jornalista Merval Pereira e até agora não desmentida pelo ex-presidente da Petrobras, de que Bolsonaro pediu para ampliar as verbas de publicidade da Petrobras em R$ 100 milhões para ampliar os investimentos em emissoras amigas do governo, é uma preocupação adicional. À jornalista Ana Flor, Castello Branco disse que Bolsonaro queria interferir na política de preços e indicar diretores da Petrobras, mas que ele não aceitou e esse seria um dos motivos de sua demissão. Com ou sem CPI, os gastos da Petrobras são auditáveis — se houver quem queira se debruçar sobre a contabilidade, como foi feito na Lava-Jato, que investigou distorções injustificáveis nas despesas de comunicação.
Mais preocupante agora para o Planalto é o escândalo dos pastores que traficavam influência no Ministério da Educação. Depoimentos do empresário que detonou o esquema e de servidores do MEC, incluindo o atual ministro, mostram que o conluio com os pastores Arilton Moura e Gilmar Santos vinha de longa data. A ligação dos dois com o ex-ministro Milton Ribeiro, por quem Bolsonaro disse que colocaria a cara no fogo, não era ocasional nem superficial. Por mais que as CPIs estejam desacreditadas, hoje só o Congresso poderia aprofundar a investigação, já que da Procuradoria-Geral da República nada se pode esperar.