Para além de todos legados do South Summit, que serão percebidos a curto, médio e longo prazo, o evento que reuniu mais de 20 mil pessoas abriu uma janela para o Cais Mauá. Potenciais investidores no projeto que está em fase de consultas públicas tiveram no evento global uma oportunidade para olhar com mais atenção e de outra perspectiva esta faixa que vai da Usina do Gasômetro até as docas, na altura da Estação Rodoviária. Nos três dias do South Summit, os secretários de Parcerias, Leonardo Busatto, e de Planejamento, Cláudio Gastal, receberam manifestações de investidores interessados em conhecer melhor o projeto.
A efervescência desses três dias, com participação de pessoas de cerca de 50 países, chamou a atenção para o potencial do empreendimento que ainda não foi apresentado aos investidores. O cronograma do governo prevê a conclusão das audiências públicas em maio. Terminada essa fase, o governo fará a apresentação aos investidores, já com as adequações que resultarem da consulta à população. A ideia é publicar o edital em julho e realizar o leilão a tempo de assinar o contrato antes do final do mandato do governador Ranolfo Vieira Júnior.
O plano prevê que um ou mais armazéns sejam destinados a atividades de arte e cultura, um ou mais para pavilhão de exposições e eventos e espaço para instalação de complexo de economia criativa. Esses armazéns poderão abrigar, por exemplo, shows de artistas menos conhecidos, a Feira do Livro ou a Bienal do Mercosul.
As audiências públicas vêm mostrando que a revitalização dos armazéns não enfrenta resistência, mas há grupos que não aceitam o modelo proposto pelo governo, de venda de terrenos junto às docas, na altura da Estação Rodoviária, para construção de edifícios residenciais e de empreendimentos comerciais. Esse modelo foi sugerido pelo BNDES como forma de garantir a sustentabilidade do negócio. É com o dinheiro da venda dos imóveis ou exploração comercial que se financiará a revitalização e a manutenção dos armazéns.
A estratégia dos contrários ao projeto é tumultuar o ambiente de negócios para afugentar potenciais investidores. Uma ONG chegou ao cúmulo de entrar na Justiça Federal com uma ação para redesenhar o atlas ambiental de Porto Alegre e dar ao Guaíba a denominação de rio, o que impediria a construção em até 500 metros da orla. A ação não deve prosperar, mas por essa lógica não poderiam existir edifícios na Avenida Mauá e até o Beira-Rio estaria contra a regra.
ALIÁS
O South Summit e o sucesso do Embarcadero podem passar a falsa ideia de que é possível manter os armazéns como estão, fazendo eventos provisórios. Trata-se de um pensamento simplista, já que a revitalização de todo o trecho pode significar, além de negócios, mais espaço para o lazer e a cultura em uma área hoje inacessível ao público.
Porto Alegre antes e depois do SXSW
Deu tão certo o South Summit em Porto Alegre que a organização da próxima edição começou antes da cerimônia de encerramento. No governo do Estado e na prefeitura, a convicção é de que já se pode falar em “Porto Alegre antes e depois do South Summit” e que em 2023 é preciso ampliar o espaço para receber maior número de participantes.
Os organizadores já pediram um armazém a mais, para poder atender à demanda de ingressos e de expositores. O secretário de Parcerias, Leonardo Busatto, pediu ao empresário José Renato Hopf que informe o quanto antes a data prevista para a edição de 2023, para que seja possível prever a reserva dos armazéns no processo de revitalização do Cais Mauá.
Neste ano, os armazéns foram cedidos pelo governo. No próximo, a negociação já deverá se dar com a empresa ou consórcio que vencer o leilão.
Ao longo dos três dias de South Summit foram inevitáveis das comparações com o South By Southwest, o SXSW, festival de inovação, arte e cultura de Austin, Texas.
Falando em português (aprendido na Bahia), a embaixadora do SXSW, Tracy Mann, disse que, na primeira edição, em 1986, Austin contava com 1 milhão de habitantes e recebeu mil pessoas. Na de março deste ano, foram 70 mil participantes, na cidade que agora tem 4 milhões de habitantes e é uma das que mais crescem nos EUA.