O jornalista Paulo Egídio colabora com a colunista Rosane de Oliveira, titular deste espaço
Descontente com a decisão da comissão executiva que delegou ao diretório estadual a tarefa de escolher o candidato a governador, um contingente expressivo de líderes do MDB gaúcho está organizando um movimento para reverter a deliberação do órgão partidário. Entre eles, estão mandatários e ex-mandatários com história e influência no partido, como o ex-governador Germano Rigotto, o ex-senador José Fogaça, o prefeito Sebastião Melo e o secretário de Planejamento de Porto Alegre, Cezar Schirmer.
Formado por ao menos 20 pessoas, esse grupo se encontrou nesta segunda-feira (21) na residência do ex-deputado Luiz Roberto Ponte, que integra a executiva estadual. O deputado federal Alceu Moreira, que disputa com o deputado estadual Gabriel Souza a indicação do partido, esteve presente.
Schirmer é um dos mais incomodados com a decisão da executiva, que chega a tratar como um “golpe” no partido. Sempre cogitado como um possível candidato da velha guarda do MDB, o secretário não vinha falando publicamente a respeito dos movimentos internos, mas entrou em contato com a coluna nesta segunda para dizer que considera a escolha do candidato pelo diretório do partido “ilegítima e ilegal”.
— O estatuto do MDB deixa claro que o órgão que deve escolher o candidato e decidir sobre coligações é a convenção. A convenção até pode ser antecipada para uma pré-convenção, mas é ilegítimo tirar a decisão de 800 ou 900 pessoas e passar para 70 — sustenta Schirmer.
Diferentes atores do processo garantem que não se trata de uma tentativa de barrar a vitória de Gabriel, que leva vantagem sobre Alceu caso a escolha fique com o diretório, e sim de prestigiar a base partidária. Mais do que o nome de Gabriel, boa parte dos descontentes enxerga uma interferência do governador Eduardo Leite no processo interno do MDB, dada sua proximidade e identificação com o ex-presidente da Assembleia.
Um deles é o vereador de Porto Alegre Pablo Melo, que diz que “cabe aos emedebistas, e não ao governador”, escolher o candidato do partido.
— Não estamos discutindo nomes, mas a legitimidade do processo. Temos prefeitos, vices e vereadores que querem e merecem participar de um processo grandioso como esse.
Uma alternativa possível, apontada pelo deputado estadual Tiago Simon, seria a realização de uma nova prévia em abril, depois do fechamento da janela partidária. De acordo com o deputado, os principais líderes do MDB, entre eles o ex-senador Pedro Simon, entendem que a decisão da executiva foi precipitada.
— Uma escolha pelo diretório ampliaria a divisão no partido e resultaria em uma pré-candidatura sem a representatividade necessária — argumenta Tiago.
Uma nova reunião do grupo deve ocorrer nesta terça-feira (22). Por enquanto, a convocação do diretório para a escolha do candidato a governador, no dia 27, está mantida.
Aliás
Cezar Schirmer rejeita a especulação de que poderia entrar na disputa interna do MDB para fazer com que, mais tarde, o partido apoie outro candidato:
— Briguei a vida inteira com o MDB nacional por não ter candidato a presidente, e acredito que o maior partido do Estado tem de ter candidato a governador. Se ninguém se apresentar, eu vou me apresentar.
Branco reafirma legalidade
Em manifestação enviada à coluna no final da tarde desta segunda-feira, o presidente estadual do MDB, Fábio Branco, contesta as afirmações de Cezar Schirmer sobre a escolha do candidato a governador pela executiva.
“Não tem nada de golpe, muito menos de ilegítimo ou ilegal. A convenção pode proclamar o resultado de uma escolha prévia do diretório, como aconteceu na eleição de Rigotto. A base é o art. 78, inciso III, do nosso Estatuto. A Executiva do MDB agiu completamente embasada. Precisamos respeitar as instâncias partidárias, mesmo quando discordamos delas”, diz o texto assinado por Branco.